quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Teoria da Culpa de Hollywood

Esta semana estou muito teórica. E querendo botar a culpa em alguém.

Assistindo a mais uma comédia romântica nesse fim de semana, e descobri que o problema de todos os nossos sonhos e expectativas frustrados vem de Hollywood. Um filme duas horas e, em míseras duas horas, as pessoas se conhecem, brigam, separam, fazem as pazes e vivem felizes para sempre.

E ai, crescemos assim, com uma noção deturpada de tempo, achando que nossas vidas também podiam se resolver em duas horas. Três, no máximo, e isso só se for uma história de amor transatlântica que demore uns 80 anos, tipo Titanic.

A gente acha lindo que, nos filmes, as pessoas fiquem anos sem se ver e, depois se reencontrem e descubram um amor que vai ser eterno. Mas a gente quer tudo isso em duas horas.


Mas não, nossa vida demora. Demora. Demora. De-mo-ra...


E ai, a culpa pelo nosso encalhamento é hollywoodiana.

Alguém já pensou que, em "Um Lugar Chamado Notting Hill", os meses (sim, vários meses) se passam enquanto o Hugh Grant está dando aquela voltinha na feira? Uma mulher aparece grávida, de barrigão, com neném pequeno e depois com o neném no carrinho. Meses! Meses! Mais de nove, com certeza!


Alguém pensou que em "O Melhor Amigo da Noiva", ela conheceu um cara, noivou, foi pra escócia, desnoivou e casou com outro... em duas horas?

Agora, na vida real, o que é que acontece em duas horas? Duas míseras horas!

Dependendo do dia, ninguém nem faz unha em duas horas. Eu demoro duas horas pra escolher uma roupa. Dependendo do trânsito, demoro duas horas pra chegar em casa, demoro duas horas contando um caso pra uma amiga no celular. É revoltante!


No máximo, em duas horas, você toma um pote de sorvete enquanto assiste aos filmes. Ou fica assistindo o filme com um olho na tela e outro no celular pra ver se o fulano por quem você se apaixonou está tentando falar com você. E atire a primeira pipoca quem nunca pôs o celular no silencioso no cinema, e, no meio do filme, resolveu dar uma conferida pra saber se realmente não tem nenhuma chamada perdida.

Sem contar que, nos filmes, os moços são sempre muito lindos, quase metrossexualmente lindos, e mesmo os mais durões, galinhas, cafajestes e mrs. big se apaixonam. Além disso, inevitavelmente, num momento mágico (e sempre súbito) saem (e podem sair) correndo do trabalho, no meio do expediente, correndo na chuva para parar o táxi da amada rumo ao aeroporto e sair rodopiando para, breves flashes depois, estarem na frente do padre e dos amigos (lindos) num cenário (lindo) e viverem felizes para sempre.


Agora, o mais insuportável de tudo, a maior das culpas hollywoodianas, é que nossa vida não tem música de fundo (a menos que você esteja numa festa, óbvio, e ai você sempre corre o risco de a música ser inadequada). Sério. Alguém queria conhecer o homem da sua vida ao som da Dança do Quadrado?

Não, não. Na vida real não começa a tocar "She" quando você entra na festa (a menos que você seja uma debutante, caso em que você não pode ser considerada - ainda - uma bonitona encalhada e que, eu acho, você não vai escolher "She" pra tocar).

E você nunca vai subir (com dignidade para sobreviver a isso) no palco no meio da festa da empresa, usando o vestido maravilhoso e o colar mais maravilhoso ainda, pra cantar pro mais maravilhoso (do que o colar e o vestido juntos) Matthew (hum, o da foto abaixo, difícil escrever o sobrenome) uma música desafinada. Gente, até pra perder um homem precisa de 10 dias! Porém, no filme...duas horas!




Até um dos filmes que eu mais gostei recentemente, Vestida pra Casar, é assim. 27 vestidos? Imagina o tempo que essa moça (auto-identifiquei-me, confesso) não gastou pra ir em 27 casamentos (se bem que eu, em um ano, bati em doze já). Mas o filme chega nos três últimos casamentos (ao mesmo tempo, por sinal) e a tempo de a mocinha arrumar um marido, em duas horas, como não poderia deixar de ser.





E mesmo quem se julga imune a Hollywood, não tem como fugir: nas novelas da Globo, por mais que durem meses, tudo se resolve magicamente no último capítulo. Ou seja, é só esperar pelo último capítulo, com o conforto de saber que tudo vai acabar bem.

O que menos me irrita são as séries americanas, em que as coisas acontecem num ritmo levemente mais aproximado com o da vida real. Além disso, o último episódio das temporadas costuma ser aquele em que surgem mais problemas, e a gente tem que esperar aflitas uns bons meses. E quando, no meio da temporada, o canal decide reprisar um episódio velho? Dá ódio. Você liga a tevê, tensa pela expectativa e lá vem reprise!

Pelo menos, é didático: a gente aprende a lidar com frustrações. E a pensar que, na vida real quem é que já não se pegou assim? Esperando meses pra saber onde vai dar uma história. Se deparando com reprises. Ressuscitando personagens sumidos há várias temporadas. Sumindo com outros que definitivamente não dão certo.

Definitivamente, a vida não é um filme. Nem um seriado. É muito mais que isso, muito mais complexa e interessante. Ainda bem.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Teoria dos momentos não coincidentes

Uma teoria que já desenvolvi há bastante tempo e me ajuda muito na vida de encalhamento é a dos momentos não coincidentes.

É um pouco complexa, mas garanto que é 100% verdadeira.

Eu tive um professor que falava que quando uma teoria precisa de um exemplo para ser explicada é uma péssima teoria. Eu acho que não. Por isso, vou explicar com exemplos.
Às vezes, quando se está namorando, ou paquerando, ou, sei lá, sonhando com um bonitão novo, você faz um milhão de planos e suposições e vive um milhão de momentos de alegria. A primeira vez que ele te liga é uma euforia. O nome dele na sua caixa de emails é outra. Assim, vários pequenos momentos de felicidade vão compondo a sua vida. E os momentos de felicidade são verdadeiros.
Só que, um belo dia, chega a bomba: ele tem namorada. Ou: ele foi visto aos beijos com outra, ou, ainda, em tempos tão modernos como os nossos: ele é gay.
Nessa hora, você sente uma tristeza profunda, uma vontade louca de comer sorvete e chocolate em barra, de largar tudo. É como se nada que você tivesse vivido fosse verdadeiro, porque você se sente enganada. É como se fosse possível voltar o tempo e sentir que você não era feliz, só achava que era.
E é ai que entra minha teoria.
Minhas amigas insistem que uma grande decepção anula toda a felicidade prévia. Você vai vendo sua história - e nem só histórias de amor, pode acontecer com todo tipo de experiência humana: amizade, trabalho, família - de trás pra frente, e se sentindo mal em relação a cada episódio, sentindo-se enganada e infeliz, por tudo que viveu. A gente acha que estava fazendo papel de otária quando se sentia tão feliz, sem saber, na verdade, o que estava acontecendo (que ele tinha outra, por exemplo), sem ter domínio de todos os elementos da situação.
Só que, como os momentos não são coincidentes, como não é possível, ainda, viajar no tempo, defendo que uma tristeza posterior não anula uma alegria já vivida. Por maior que a tristeza seja, e por menores que tenham sido as alegrias, tudo foi verdadeiro e genuíno. Cada um em seu momento. Como está na moda, cada um no seu quadrado. E, sejamos francas, a gente nunca tem domínio de todos os elementos da situação.
Mais que isso, algumas coisas na vida são tão bacanas, que acho que, mesmo sabendo onde elas iriam dar, eu faria tudo de novo. Não abriria mão do meu Mr. Big só pelas noites em claro que fiquei pensando em como ele me fez de idiota. Não abriria mão dos meus paqueras só porque eles não viraram namorados. Jamais abriria mão do meu namoro de hoje por alguma previsão louca que me dissesse que "ele" nunca vai me desencalhar.
Por outro lado, não aguento amigas de memória seletiva, que, só porque terminaram, começam a lembrar só das partes boas, como se o namoro tivesse sido uma perfeição.
-Helloooooooo! Se ele fosse tão bom assim, você não estava sozinha.
Em casos extremos, faço uma listinha das coisas que o moço aprontava, do perfume que deixava ela com dor de cabeça, das grosserias na frente dos outros, dos "ends", das desculpas esfarrapadas e mando a amiga só me ligar reclamando que sente saudade do moço depois de ler a lista três vezes em voz alta, pra se conscientizar que nem tudo eram flores.
De qualquer modo, gosto da teoria dos momentos não coincidentes, porque ela mostra que qualquer experiência, por mais fracassada ou bem sucedida que seja, deixa recordações, que vão nos transformando, nos fazendo melhores, pela dor ou pela felicidade. E é muito bom saber que podemos experimentar, também, momentos de pura alegria.

sábado, 22 de novembro de 2008

Terapia do Amor

Outro dia, minha sogra (a mãe do meu namorado, como já expliquei) me chamou para uma palestra sobre "Amor, sexo e sexualidade no mundo contemporâneo". Lá fui eu. Adoro palestras, discussões sobre esses assuntos que ajudam tanto a gente a se entender mais e, como consequência, ser mais feliz.
Chegando na palestra, chamou minha atenção o tanto de mulheres ali presentes (umas quarenta) em meio a tão poucos homens (uns três). Será que só nós, mulheres, nos interessamos por amor e sexo no mundo contemporâneo? Interessantemente, a palestra seria proferida por um homem.
Pensei: deve ser que os homens já sabem do assunto e um deles veio aqui nos explicar, né?
O psicanalista palestrante começou se apresentando: formado ha 26 anos (meu tempo de vida) e com mestrado em literatura. Como eu poderia não me interessar? Quando ele falou que sua dissertação havia sido sobre Capitu e Bentinho, quase desmaiei de tanta identificação. Freud deve explicar.
Devidamente acomodados os ouvintes (injusto esse plural ser no masculino, considerando a imensa maioria de mulheres no recinto), começou a palestra:
- Tenho recebido vários homens em meu consultório. Todos na faixa de 20 a 30 anos, com o mesmo problema: medo de se casar.
Pensei de imediato: gente! Esse moço sabe o que eu estou passando! Senti palpitações. Seria Deus mandando um enviado cientificamente amparado para sanar minhas dúvidas? Se eu fosse uma história em quadrinhos, uma lâmpada teria se acendido no balãozinho de pensamentos sobre a minha cabeça.
E ele continuou:
- O homem fóbico não quer casar, porque ele não sabe o que pode oferecer às mulheres tão completas de hoje em dia.
E eu: completas? Como alguma mulher pode ser completa sem uma aliança? É como se fosse a última figurinha do álbum, ninguém pode se considerar completo sem ela. No way. Eu sou o ser mais incompleto do planeta. Tenho um mundo de sonhos, um mundo de expectativas. E nada de aliança.
E o moço foi falando, falando, falando. E, de repente, era como se não houvesse mais ninguém naquela sala, só nós dois, e, depois, como se nem eu estivesse fisicamente lá, porque as coisas que o moço foi falando, como se tudo que ele estivesse dizendo, fosse só para mim. Falou dos papéis que a gente assume, das funções que a gente toma para si, de não deixarmos os homens fazerem as coisas pra gente.
E eu sai pensando que não é desaforo deixar eles pagarem as contas de vez em quando, abrirem as portas, cederem os paletós e os guarda-chuvas. A gente quer ser bonitona, e pode até ser encalhada, mas a gente tem que ser bem cuidada, bem amada, bem resolvida. A gente é bem sucedida em tantas coisas, e na vida pessoal, a gente pre-ci-sa do outro. A gente precisa desses homens que tem medo da gente. Acho que um amor se constrói, mesmo sem casamento, em comunhão. Metade nosso, metade deles, formando um todo em que não se consegue identificar uem contribuiu com o quê.
Quanto ao medo dos homens, me eu uma pequena revolta. Até tive um pensamento ao estilo "Capitão- Wagner Moura- Nascimento": tá com medinho? Então pede pra sair!
Mas não é isso que eles estão fazendo? Pedindo pra sair (não conosco, mas dos relacionamentos conosco???). Dificil.
E será que nós também não temos medos? Será que não temos medo de nós mesmoas? Medo de não sermos amadas (ou amáveis), não sermos compreendidas (ou compreensíveis), não sermos infalíveis, não sermos predestinadas a dar certo em tudo que a gente tente fazer? A gente tem medo de não encontrar o que mais queremos?
O psicanalista disse que as mulheres querem amor.
Eu quero. Inteiro, e não pela metade.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A bonitona mais bonitona

Inspirada pelo post de ontem, resolvi recauchutar o blog. E ai, gostaram? Ficou melhor?

Outras dicas para sobreviver às vacas magras

Meninas,

sei que vai parecer bem feio, mas pensei em outras dicas para sobreviver nos tempos de vacas magras (e me refiro ao pouco dinheiro, e não aquelas mulheres maravilhosas, magras e impossíveis, que nos deixam até com uma pitada - grande - de inveja). Vamos lá:
1) Todas sabemos que matricular-se em uma academia exige um investimento financeiro (mensalidade, matrícula, roupinhas) e que, em momentos de crise, tal investimento pode estar muito além das nossas posses. Por isso, sugiro que procurem academias (próximas à casa de vocês, mas se não forem próximas, ok também, já que a caminhada queima calorias) que ofereçam aulas experimentais. Assim, você liga e faz uma aulinha aqui, outra acolá e consegue se manter em forma por pelo menos dois meses. Juro.
As melhores são as que tem muitas aulas: um dia você experimenta o step, no outro experimenta o spinning, no outro experimenta o jump e por ai vai...
Uma academia perto da minha casa oferece uma semana de malhação experimental. Gente, olha que sucesso! Você vai lá, se mata de malhar uma semana, e vai fazer a experimentação em outras, afinal, nós, bonitonas encalhadas somos exigentes, temos que conhecer a fundo os métodos de malahação e tudo mais.
2) Outra dica muito bacana para os dias de pobreza, mas sem perder a pose são as lojas de maquiagem. Tem um aniversário pra ir e não quer pagar salão? Entre numa loja de maquiagem (não vou citar nomes, mas são aquelas que têm em todos os shoppings e todo mundo conhece) e mostre interesse como se fosse MESMO comprar tudo. As lojas de hoje costumam ter até as cadeiras profissionais e um mundo de produtos a serem experimentados.
Se você tem noção de maquiagem, peça pra vendedora te ajudar: primeiro um corretivo, base, blush, batom, gloss...deixe ela se empolgar, achando que você vai levar tudo. Se, no final, ficar bom, compre um gloss, ou uma sombra (o item mais barato disponível). Se ficar feio, agradeça e vá embora.
O maior risco é cair nas mãos de uma vendedora baranga (que vai querer que você passe uma sombra azul e um batom coral), mas ai você sai da loja e lava tudo. Aliás, outro risco é ela maquiar só metade do seu rosto, só demonstrando mesmo (caso em que você terá que ser minimamente sincera e dizer: moça, não tem condição de sair na rua assim, você vai ter que fazer o outro lado também!).
3) Outra opção de pobreza com glamour é deixar o orgulho de lado e combinar um intercâmbio de roupas com as amigas. Empreste suas roupas que fazem o maior sucesso e pegue emprestada as das amigas, o que ajuda demais a renovar o visual sem desembolsar nada. Ótimo, principalmente para roupas de festa, que costumam ser caras e não podemos repetir muito.
4) Uma dica final, destinada somente àquelas que já estão habituadas à pobreza é sobre como proceder no ônibus. Obviamente, nos horários de pico, não há lugares para todos se sentarem. Por isso, você tem que ser esperta.
Minha estratégia, em síntese, é a seguinte:
- Entro com alguma coisa na mão (um livro, um caderno). Mesmo que caiba na bolsa, o ideal é você estar (e demonstrar) todo o seu desconforto com o objeto. Alguém (que já está sentado) irá se oferecer para segurar para você e pronto! Isso é praticamente marcar reserva do lugar dele, porque, quando essa pessoa descer, você já estará íntimo, próximo e terá seu lugar. O risco é a pessoa descer depois de você, ou seja, não custa nada sondar, com delicadeza e sensibilidade, em qual ponto a pessoa pretende desembarcar para, se for o caso, trocar de "carregador".
- Outra técnica bastante eficiente é reparar a linguagem corporal dos passageiros. Mulheres são alvo mais fácil, porque, quando o ponto de desembarque se aproxima, elas fecham as revistas, ajeitam a bolsae ficam, geralmente, semi-levantadas, o que evidencia a intenção de desembarque. Não seja boba, fique a postos.
- Outra dica interessante é, quando você perceber que alguém está tentando levantar, pare na "saída" do banco, dificultando a passagem, de modo que a pessoa só consiga sair se deixar você entrar. Sei que essa dica é complexa, necessitaria de pelo menos uma ilustração, mas exercitem a imaginação.
Por hoje era só. Assim que for aprimorando meu estagiarian way of life, conto pra vocês. Beijinhos!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Melhor

Todos os dias, eu acordo acreditando em várias coisas.

Que o dia vai ser bom.

Que eu vou ter força de vontade pra ir pra ginástica.

Que eu vou conseguir começar um regime.

Porém, a única coisa que me faz levantar da cama todos os dias é acreditar que hoje eu posso ser melhor que ontem. E pior que amanhã. Eu preciso acreditar que a gente pode mudar todos os dias, que a gente pode ser melhor.

Algumas coisas às vezes me torturam e me assombram.

Trago comigo meus fantasmas. Agi errado com algumas pessoas, falei e fiz coisas que não devia. Coisas que não tem como desfazer, palavras que não podem ser desditas. Ficam as lições. E as tentativas de que, nas próximas vezes, poderei agir diferente, com pessoas diferentes, sendo outra Laura, mantendo um tanto de mim, e acrescentando as coisas boas. Reconhecendo os erros e tentando ser melhor.
Por isso acho difícil falar das pessoas, principalmente pessoas que conheci há muito tempo. Não que eu não fale. Mas sempre me arrependo. Ninguém pode estar condenado a ser de um mesmo jeito pra sempre. Eu mudei tanto. Por que os outros não poderiam? Sou a favor das segundas chances, terceiras chances, quartas chances. Eu não desisto fácil. Nem de mim, nem dos outros. O que não significa que eu não desista nunca.

Eu quero ser melhor. Todos os dias.

Eu não SOU nada. Não SOU chata, nem legal, não SOU bonita, nem feia, não SOU inteligente, nem burra. O que eu sou depende de muitas coisas. Eu estou sendo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Viciada Anônima

Oi.

Boa tarde.
Sou Laura H, 26 anos, encalhada e desiludida.
Quem me conhece não imagina, mas sou uma viciada.


Antes que vocês se assustem, esclareço que não possuo nenhum vício ilícito. Todavia, alguns deviam ser proibidos, para meu próprio bem.

Sou viciada.

Viciada em vícios. Cada fase da minha vida tem um vício marcante e a atual não tem sido diferente.


Sou viciada em balanças. Há muitos anos, não posso ver uma que subo. Me destrói por dentro ver a louca calculando meu peso (muitas balanças custam a se decidir e mostrar um número final, enquanto eu aguardo ansiosa), e constatar que estou sempre mais gorducha. Porém, mesmo assim, eu vejo e subo. Aliás, perto da minha casa há duas drogarias, uma quase de frente pra outra. Subo na balança em uma, atravesso a rua, e subo na outra pra ter uma segunda opinião. Todos os dias. E se aparecer alguma no caminho, subo também. No meio do meu caminho sempre tem uma balança, tem uma balança no meio do caminho.

Sou viciada em chocolate. Não passo um dia sem. Atualmente, ando numa fase totalmente Laka, com algumas recaídas Diamante Negro. Sofrido. E ainda me faz sofrer mais quando vou alimentar o vício 1, das balanças.



Sou viciadas em bolsas. Tenho muitas, mas, na hora de sair, nunca acho que tenho a certa. Compro. Na verdade, sempre acho que estou precisando, mas meu pai já quer me convencer que ninguém no mundo precisa de 28 bolsas. Eu concordo com ressalvas: ninguém no mundo precisa de 28 bolsas, eu preciso de muito mais que isso.





Sou viciada em cartão de crédito. Adoro pontos acumulados. Faço unha e pago no cartão. Compro chicletes no cartão de crédito. Além de bolsas e chocolates, obviamente.



Sou viciada em revistas de ginástica. Acho que meu inconsciente estúpido entende que só de ler já vou emagrecer, o que, definitivamente não é o caso. Como a balança, inclusive, insiste em mostrar.



Sou viciada em seriados, ultimamente House. Viciada compulsiva: comprei as três temporadas disponíveis e já arrumei o download da quarta. E a quinta já está no ar. Alívio!

Sou viciada em MSN. Todos os dias chego no trabalho e ju-ro que não vou entrar. Quando vejo, já estou eu digitando a senha.




Sou viciada em blogs (sweetest e bem casadas encabeçando a lista). Entro várias vezes, só pra ver se tem post novo. Sou viciada em portais de notícia. Atualizo a cada 10 minutos. No máximo.


Sou viciada em emails. Toda hora quero ver se chegaram novidades.


Estou viciada em maquiagens. Nem sei usar, mas estou cheia de pozinhos mágicos em casa.



Sou viciada em começar coisas novas. Sou ótima de iniciativa e péssima de continuativa. Desisto muito rápido. Só persisto nos vícios.


Sou viciada em amigos, não passo um dia sem pelo menos 2 telefonemas ou bate-papos no msn.


Sou viciada em livros. Tenho uns 4 na cabeceira, a serem iniciados e já estou comprando mais (cartão de crédito, de novo) pela internet.


Sou viciada em comer acompanhada. Se tiver que almoçar sozinha, prefiro nem almoçar.

Pra completar, agora, coisa de um ano pra cá, viciei em casamentos - o tema, é claro. Não é que eu vá sair casando compulsivamente como a Elizabeth Taylor ou o Vinícius de Morais, por exemplo. Eu gosto de conversar sobre casamento, casamento dos outros, já que, pra mim, nada em vista. Sei tudo do assunto. Buffets, vestidos, cerimoniais, djs. Adoro quando alguém me chama pra ajudar com qualquer coisa. Até parafusar tamap de privada em casa de amiga recém-casada em já parafusei.


Adoro tudo que se relaciona ao assunto, tenho o maior carinho em ajudar, me divirto vendo as fotos, os filmes. Amo. Se pedir meu palpite então, flutuo.


E a noite do evento? É mágica pura, muita felicidade, uma "onda" incrível, como se eu estivesse realizando um pedacinho do meu sonho, porque, na verdade, estou. Um sonho de amor ão bacana e corajoso, que dá alegria só de ser testemunha, de saber um pedacinho daquele amor.


É um vício quase todo bom. O único porém é encarar, sozinha e solteira, a crise de abstinência.

Espelho, espelho meu, existe alguém mais viciada do que eu?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

N-A-M-O-R-A-R ou T-E-R-M-I-N-A-R

Na vida já aprendi a conviver com alguns mistérios: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Quem é o Mr. M do Fantástico? Quem matou Odette Roitman?




Entretanto, um ainda me tira o sono: por que os homens não gostam de nomear os relacionamentos? Aliás, formulando melhor o enigma, por que os homens não começam oficialmente um namoro e também nunca (ou quase nunca) tomam a iniciativa de terminar?


Você conhece um moço bacana em abril. Ele te liga, vocês saem. Uma, duas, três, quatro vezes. Ainda em abril, ele começa a te ligar, "só pra ouvir a sua voz", "só pra dar um oi", "só pra falar que viu um filme e lembrou de você"... Manda mensagens bonitinhas.


Em maio, vocês começam a sair toda-sexta-e-todo-sábado. Ele te chama pra ir ao cinema dois domingos seguidos. Ele te pega depois do trabalho/faculdade na quarta-feira e vocês vão lanchar.


Quarta de uma semana e na segunda-feira da semana seguinte.


Ai, junho chega. A cidade se cobre de propagandas do dia dos namorados. O bonitão se dá conta de que a data mágica se aproxima - e constata que a data pede uma definição da parte dele. Ai, vocês saem no dia 10 (suponhamos, um domingo), ele te liga dia 11 (segunda), desaparece dia 12 ("o"dia), não dá notícias dia 13 e ressurge das cinzas dia 14, na porta do trabalho/faculdade. Com a cara mais normal do mundo.

Para a alma masculina (bem, a existência da alma masculina ainda não é uma certeza, visto que aparentemente 75% dos homens parecem não ter alma, ou ter uma alma infantil, subdesenvolvida), parece que só pelo fato de vocês não saírem no dia dos namorados já é suficiente para significar que vocês não estão NA-MO-RAN-DO. Parece que eles não querem falar.

É isso. Os homens não querem falar. É como se falar fizesse a coisa existir. Mal sabem eles que falar, ou não, não faz a menor diferença. O que conta são as atitudes.

Os homens não querem falar que o namoro começou. Eles querem cristalizar o estado de não namoro, mas de pegação-sem-compromisso-mas-com-fidelidade-da-sua-parte, já que você, a essa altura, já está envolvida o suficiente para não querer correr o risco de investir em outro e perder o que já está quase oficial. E ai, essa situação perdura até que alguém, amigo dele, parente seu, enfim, alguém, faça a inevitável pergunta: essa é sua namorada? É assim que 75,2% dos namoros começam.
Aliás, sugiro que, se estiver demorando demais para isso acontecer, você peça a um amigo para fazer a pergunta, o quanto antes.

Porém, outra situação bastante enigmática, ao mesmo tempo igual e oposta à primeira, é de quando o namoro está capenga, péssimo, indubitavelmente falido e o moço finge que não é com ele, não toma nenhuma atitude. Você liga dez vezes, ele só retorna duas horas depois. Esquece o cinema que vocês tinham combinado e vai jogar futebol. Está muito cansado para ir te ver e, subitamente, se anima todo para um chopp com os amigos. É isso. O moço termina, conta pro "eu-interior"dele(já que não se sabe se eles têm alma), e "esquece"de te avisar. É aquela velha metáfora: o namoro morreu e esqueceu de cair.
Numa metáfora meio sem classe, é como se alguém (ele, claro, porque você jamais faria isso em público) desse um pum bem fedorento e ficasse com cara de paisagem. É lógico que os dois sentem o cheiro, é claro que você sabe que não foi você, mas ele não se manifesta. Inclusive, ele fica tão impassível que você, com o tempo, passa a questionar sua sanidade: gente, será que fui eu que soltei essa arma química? Por que você, ingênua, crê na boa-fé do rapaz e pensa, não, ele não faria algo assim e não me pediria nem desculpas...


O pior é que o término dele vai ficando mais evidente a cada dia, as coisas "de solteiro" que ele faz são cada vez mais absurdas, começa a ser visto em festas de 15 anos, eventos de axé, trocar mensagens estranhas pelo celular.

Até que um dia, você constata de que não tem mais namorado, no sentido funcional da palavra. Percebe que prefere sair sem ele do que com ele, percebe que o peso morto que não conversa com ninguém nas festas da sua família (nem com você) está muito pesado. E acaba sendo forte o suficiente para fazer o que ele não faz: tomar as rédeas do namoro e dar nome aos bois (tomara que antes de alguém vir te dar nomes de chifres).


Você ensaia, ensaia, sofre pra terminar e quando, finalmente, consegue, constata que ele já sabia, que ele já havia terminado.
Dá raiva, tristeza, decepção. Dá vontade de bater naquela plasta que te olha e não fala nada. Nem argumenta, nem tenta te convencer de que você está errada, porque, no fundo, quem está terminando é ele, só que através da sua boca, o que te deixa mais furiosa e repetitiva: foi ele quem tornou o namoro péssimo, foi ele quem esfriou, foi ele que blá, blá, blá. Enfim, seja lá o que for que ele tenha feito - ou não - você TEM que terminar.
Depois que ele sair, você vai catar seu orgulho no chão, humildemente, ligar pras amigas, ficar uns dias na fossa, e se preparar, porque se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim, quer dizer, chegou ao fim mais um namoro, mas esse fim é sua chance de dar chance a um novo começo, não é?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A outra mulher maracujá

Genteeee! É isso que dá não estar por dentro do mundo da TV no sábado a tarde! Uma bonitona encalhada que entra aqui no blog me avisou que a mulher maracujá existe, e foi até no Caldeirão do Huck! Ou seja, fiz um post todo poético e me vem uma outra desqualificando a fruta que eu tinha escolhido (achando que ela ainda estava a salvo)... doce ilusão...


Vou pesquisar outra fruta pra mim! Pelo tanto de mulheres-fruta que já tem por ai, estou cogitando adotar a lichia, a nectarina ou a nêspera.

A propósito, alguém já ouviu falar de alguma mulher nêspera?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Pêlo sim? Pêlo não!







Se eu encontrasse um gênio da lâmpada e pudesse pedir três coisas, uma delas com certeza seria não ter pêlos nos lugares em que tenho que depilar. Isso seria o terceiro pedido, óbvio, porque casar e virar escritora seriam prioridades, nessa ordem necessariamente. Minha vida já é bem bacana, mas se eu fosse escritora, casada e eternamente depilada, imagino que seria bem mais feliz. Feliz eu não sei, mas despreocupada, com certeza.



Quem é a bonitona encalhada que, na pressa, não saiu de casa correndo e se esqueceu de conferir as axilas? Quem nunca marcou um encontro no clube (até com uma amiga) e só notou a situação crítica da virilha ao colocar o bíquini? Não sei sobre vocês, mas, às vezes, acho que a situação está tranquila, ponho uma saia ou um vestido e, ao sol, os pelos parecem ter escurecido e se multiplicado... Verdade seja dita: se de noite, todos os gatos são pardos, de dia, todos os pelos são pretos.





Já experimentei diversos métodos de extração pelífera: cera quente, cera fria, cera de roll-on, cera feita em casa, creme depilatório, aparelhinho (de tortura), lâmina e todos têm seus prós e seus contras, mas cada um deles merecia um texto próprio. Muitas dúvidas pairam em minha cabeça sobre o tema, mas, será que sou só eu que sente - sem exagero - o útero revirar quando a moça passa cera quente na minha virilha? E quando a depiladora, com aquele meio sorriso, puxa a cera inteira, de uma vezada só, e você pensa: querida, a perereca deverá permanecer onde estava, ok?






Cera fria parece uma sucessão de choques, vrap, vrup, vrap, vrup, no final, dói tanto que eu já fico anestesiada. Sem contar a vez que cai nas mãos de uma depiladora novata, e ela fez tanta bagunça, tanta meleca, quebrava a cera no meio, ficava puxando fio por fio, que eu não consegui deixá-la terminar o serviço. Pedi pra parar e sai do salão com a virilha feita de um lado e horrenda do outro. Melhor que desmaiar de dor.


Outro dia, assisti à entrevista de uma dermatologista, dizendo que era mito a história de que raspar engrossava os fios. Engraçado, porque os meus fios são bem míticos então - tenho cer-te-za que eles engrossam mesmo.






Entretanto, voltando a meu gênio da lâmpada, como os dois primeiros pedidos (ser escritora e o casório) não estão a meu alcance, fui em busca dos meus sonhos de me tornar um ser sempre pronto para um banho de piscina, quer dizer, no que diz respeito à depilação, já que as gorduras, como já falei, exigem a burca.





Atualmente, os anúncios de depilação a laser estão em toda parte, com todos os tipos de preços e nenhuma explicação precisa sobre a diferença entre eles. Eu, neurótica que sou, comecei a pesquisar.



Sou muito preocupada com coisas de corpo e saúde e acredito que, para qualquer tratamento, a chance de sucesso é sempre 50%. Sempre leio bulas de remédios, e garanto que são muito mais aterrorizantes que muitos filmes de terror por aí. Provavelmente é porque os laboratórios têm tanto medo de serem processados que listam toda e qualquer consequência adversa já relatada, mesmo que não tenha nada a ver com os remédios. Se você acreditar em tudo o que eles escrevem na bula, nunca mais toma nenhum medicamento. Falência renal, pancreatite, dor de cabeça (vem com o nome científico: cefaléia) é o mínimo. Se com remédios sou assim, imaginem para deixar alguém apontar um laser em minha direção...


O caso é que minha sogra também tem uma clínica de depilação a laser. Mas ninguém merece depilar a virilha com a sogra, né?



Nem adianta argumentar: "Mas você já vomitou na sogra (vide post), o que tem depilar a virilha?", que eu responderei : o vômito foi espontâneo e eu estava inconsciente. Agora não, estou escolhendo.


Então, fiz meus levantamentos e cheguei à conclusão de que, infelizmente, o preço alto, significa profissionalismo e segurança, por exemplo, a avaliação por médicos, acompanhamento adequado, equipe treinada. É claro que respeito quem opta por ir em outros lugares, mas, se alguma coisa desse errado, sinceramente quero poder estar com a consciência tranquila de que fiz tudo o que estava a meu alcance para que desse certo.



Inevitavelmente, fui parar na clínica da sogra, que achou um absurdo eu debandar pra concorrência. Preciso falar que o argumento dela foi bom: se fosse uma bolsa você pagava (verdade), se fosse um óculos você pagava (verdade), se fosse um vestido de festa custaria bem mais que a sessão (verdade) e sendo a sua pele, a sua beleza, você não paga? É. Engoli.


E lá fui eu fazer as axilas (vulgarmente conhecidas como suvacos, mas esse termo é tão feio que é quase pejorativo - aliás, bonitona encalhada que se preze não tem suvaco nem bigode, mas axilas e buço). Afinal, como disse, depilar virilha com a sogra não dá, é contra minha religião.



Tirei a blusa, passei a pomada anestésica e me vem uma mocinha com dois balões de gelo. Um para cada braço. Ponho os balõezinhos sob os braços e começo a gelar inteira. A sensação dos balões é horrível, como se suas axilas tivessem decidido conhecer a Sibéria e, aos poucos, isso fosse contaminando todo o corpo. Ainda bem que só durou 10 minutos.


Depois, eles te colocam uns óculos próprios e vc fica lá, ceguinha, sentindo uns choquinhos leves (bem mais tranquilos que os a depilação com cera fria, na minha opinião) e um cheiro de cabelo queimado. Sai de lá leve, e, o que é melhor, a sessão durou uns 15 minutos. O que demorou mais foi o ritual pomada + balões, mas mesmo assim, ótimo.


Fiz quatro sessões em cerca de quatro meses (as sessões foram mensais) e agora, sou uma mulher pêlos free na axila. Quer dizer, de vez em quando surge um ou outro desavisado na área, mas eu pinço e fica tudo bem por mais vários dias.


O único inconveniente é que, como eu não me preocupo mais com a axila, acabo negligenciando as outras partes e, quando assusto, a situação já está crítica. E eu tinha planos ambiciosos para expandir minha conquista, como aquelas pessoas que se empolgam com tatuagens e saem tatuando o corpo todo... Além disso, se eu conseguisse por minha conta fazer a depilação, liberava o terceiro pedido do gênio, e ia poder sonhar com ser rica, viajar o mundo, etc.. Porém, como já disse, as bolsas caíram... e lá vou eu comprar gillete (rosa, claro)!





PS: pra quem for de Belo Horizonte, fica a dica: Quanta Laser, no Life Center, cj. 905 - telefone: (31)3286-5544. A clínica é da sogra, mas ela é boazinha.



Email

Bonitonas encalhadas (e bonitão créu),

agora, tenho um email pra vocês entrarem em contato e enviarem suas dicas, sugestões, comentários e, por favor, críticas! Acho muito difícil responder pelo blog, ai fica mais fácil eu me comunicar com todo mundo:

bonitonaencalhada@hotmail.com

Beijos!

Laura

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Estagiarian way of life

Uma coisa é certa: é muito mais fácil acostumar com a riqueza que com a pobreza. Não que eu já tenha sido rica em algum momento da minha existência, pelo contrário, sempre fui bem normal, classe média, mas depois que me formei, tenho meu dinheirinho de vez em quando. Aliás, tinha, antes de vir a crise da bolsa e levar todas as minhas economias sabe-se lá pra onde.


(Parentêses: se tanta gente perdeu tanto dinheiro esses dias, quem é que ganhou esse dinheiro todo? Sei que essa é uma pergunta altamente burra para quem entende de economia e mercados, mas faz todo o sentido para mim, a pessoa altamente burra em economia que aqui escreve e que, mesmo sendo altamente burra, investiu o dinheiro dela na bolsa. Já me explicaram que o dinheiro não vai pra ninguém, ele some como se nunca tivesse existido, mas é meio complexo para mim.)

De qualquer forma, voltando à minha fase de vacas magras, encontrei um caderninho com minhas anotações de quando eu era estagiária com dicas para minha sobrevivência.


Naquele tempo (adoro essa expressão, parece que o caso é muito antigo, quase bíblico), eu fazia duas faculdades (uma de manhã, outra de noite) e um estágio no meio. Por isso, e também pelo fato de que eu não tinha carro (como até hoje não tenho), eu saia de casa pronta para o dia inteiro, cheia de sacolinhas, merendinhas e soluções para o que quer que acontecesse. Afinal, eram 16 horas contínuas fora de casa e muitos ônibus durante o dia.

Diante das dificuldades que estou vivenciando atualmente, decidi retomar esse estilo estagiária de vida, ou "estagiarian way of life". Selecionei alguns tópicos interessantes, e venho dividir com vocês (que podem estar precisando também):

- Alimentação

Já que eu tenho mesmo que comer fora, tento fazer minhas refeições só com folhas. As pessoas olham chocadas pro meu prato de rúcula, agrião, alface americana, alface roxa, repolho e couve. Entretanto, folha pesa menos no self service e o almoço sai mais em conta. Das minhas anotações primitivas, consta o seguinte comentário: tomar cuidado com brocólis, tomate e abacaxi - são muito pesados; peixe é leve. Evitar restaurantes "preço único" (aqueles do tipo, uma carne, duas carnes, três carnes), geralmente meu prato fica mais barato (e mais saudável) no preço por quilo.


Lembrando sempre que se alimentar exclusivamente de folha fosse receita de magreza, os elefantes não seriam, digamos, elefantes.

Para beber, opto por nada, já que beber durante as refeições faz mal. Outra coisa boa é que no self service que eu vou sempre tem um chazinho de graça, e ai, pegue um copinho maior e finja que não notou a cara feia.

Nos dias de muita vontade de junk food, como pastéis. Pastel é sempre barato e ainda é possível descolar umas promoções (2 pastéis e um refresco por 3 reais).


Para os lanchinhos de fim de tarde, vou começar a passar todo dia no supermercado mais próximo da minha casa. Sempre tem uma mocinha oferecendo alguma coisa pra degustar por lá, um pãozinho com ervas, um biscoitinho novo, tudo em porções moderadas, compatíveis com a dieta de que estou precisando.

Para os dias de extrema necessidade de doce (sorvetes finos), passo na porta da sorveteria e, como se fosse realmente adquirir algo, peço uma provinha de um sabor qualquer. É claro que fico com vontade depois, mas soluciona em parte o problema.
- Transporte e ginástica


Não pego mais táxi. Agora, ou vou a pé (queimo calorias, potecializadas pelo salto alto), ou vou de ônibus (queimando as calorias me equilibrando nas curvas, potencializadas pelo efeito sauna do trasnporte coletivo nos horários de pico). Assim, dois problemas estarão resolvidos: locomoção e ginástica.
Caronas são bem-vindas nos finais de semana e em eventos sociais noturnos.
- Vestuário
Terei que voltar às origens e frequentar mais assiduamente lojas de departamentos. Felizmente, as lojas evoluíram e têm muitas peças bacaninhas e bonitinhas com preços módicos. Felizmente também comprei muitas peças este ano, e devo ter pelo menos uns seis (três, talvez) meses de roupinhas apresentáveis para várias situações. Estou obstinada a não comprar mais nenhuma peça até o ano que vem. Mais felizmente que tudo, os anos 80 estão de volta, e como não pretendo adquirir nenhuma peça com ombreira, acho que minha missão vai ser mais fácil.

- Higiene pessoal
Como eu não fui agraciada com o dom de fazer minhas próprias unhas, vou optar por ir ao salão apenas em dias de promoção e fazer pé e mão a cada dez dias (e não toda semana). As unhas vão ter que ser clarinhas, porque duram mais (dá pra despistar por mais tempo).

Depilação vai ser tema de um post próprio.
Meu cabelo - pelo menos isso - não dá muito trabalho, ele se ajeita, então eu posso lavar e dar uma secadinha. Ainda bem que fiz luzes mês passado, consigo sobreviver quatro meses sem retoque.

- Livros e revistas
Sou muito consumista com livros e revistas. Livros nunca saem de moda, e ninguém precisa ler os últimos lançamentos. Vou me arriscar nos livrinhos de banca, muitos clássicos em edições baratinhas, posso reler Machado de Assis, ou outros autores cujas obras estejam acessíveis.

Para as revistas, uma boa saída é passar a frequentar os sites. Também é possível encontrar as revistas atualizadas ou as revistas mais populares no salão. Na pior das hipóteses, puxar papo com a manicure é uma boa dica para ficar a par do mundo das celebridades. Outra possibilidade é aproveitar para marcar todas as consultas necessárias (no plano de saúde, óbvio) para tentar achar as edições mais recentes de Caras e Contigo!, muito embora os médicos sejam bem avarentos e costumem deixar uns exemplares velhos.





Nos meus tempos de estagiária, eu adorava ler revistas antigas de celebridades. É engraçado ver como os famosos mudam (muito), ver declarações de amor de relacionamentos que já acabaram, grávidas de filhos que já nasceram, festas de casamentos que ainda dão certo, enfim. Outra revista que considero atemporal é a Boa Forma. Você pode comprar 12 e passar os anos seguintes relendo, mês a mês, a revista (que eu amo, por sinal), mas que não tem muitas variáveis: quer ficar linda e magra? Feche a boca e malhe!

- Cultura e entretenimento
Esse é o item mais fácil. O que tem de espetáculos de qualidade com entrada franca e preços reduzidos não está no gibi. Basta procurar. E eu já comecei. Na pior das hipóteses, volto à fase de pesquisar a programação da TV a cabo (pelo menos isso é por conta do meu pai) e viver de pipoca de microondas.
Então, bonitonas, essa era minha dica do estagiarian way of life, que eu vou retomar pelo menos nos próximos dois meses! Sintam-se a vontade para aderir!

domingo, 9 de novembro de 2008

Mulher Maracujá


Quem me conhece sabe que eu sou ótima de garfo.


Só não como três coisas: melão, melancia e pepino. Isso, obviamente, entre as coisas comestíveis, porque, desculpem-me (gosto não se discute), sarapatéu e buchada de bode nem entram nessa categoria para mim, portanto, desconsidero.


Melancia eu não como porque, apesar de ser muito aguada, e muito indigesta. Eu fico arrotando melancia o dia inteiro. Então, com outras opções de frescor, evito.

Melão é a mesma coisa, uma água sem graça.

Já o pepino tem um gosto que contamina o resto da salada toda, tudo fica com gosto de pepino e eu acho que esse comportamento egoísta e também altamente indigesto merece ser evitado. Pepino, para mim, só em rodelas para aliviar as olheiras.


O mais interessante é que pepino, melão e melancia, são da mesma família de vegetais...enfim, não gosto dessa família.

Por isso, desde que começou essa história de mulheres-frutas, eu fiquei pensando: tanta fruta boa no mundo, vão escolher logo as piores. São redondas e grandes, metaforicamente parecidas com os glúteos e os seios das tais mulheres, mas só. Umas frutas sem graça, só água e um gostinho de leve. Água e caroço. Acho triste ser denominada de melancia, só pelo formato da sua bunda, ainda mais porque, sinceramente, eu é que não quero ter um bumbum que nem uma melancia. Para mim (mais uma vez, para mim), é muito triste ser só uma mulher casca.
Tudo na vida tem casca e recheio, forma, cor e gosto, e se eu fosse uma mulher-fruta...

Primeiro pensei em mulher-laranja. Sabe, tenho meus furinhos, minhas imperfeiçõe, mas o gosto é ótimo, cheio de vitaminha, muito embora eu me sinta um bagaço algumas vezes.


Entretanto, achei precipitado. Fiquei pensando em várias frutas e possibilidade e cheguei à conclusão de que se eu fosse uma mulher-fruta, seria a mulher-maracujá.



Primeiro, porque a flor de maracujá é linda, sem ser básica. É exótica, e diferente, e cheia de particularidades, mas linda. E cheirosa.



Segundo, porque, quando está novo, o maracujá é uma fruta de pele vistosa, firme, esticadinha, mas por dentro é um pouco azeda. E eu, adolescente era bem mais bonitinha e de pele firme que hoje, mas tive minhas crises e meus azedumes.



O maracujá, aos poucos, vai amadurecendo e ficando com a pele mais enrugadinha, como nós, com marcas, com manchas. Só que ninguém deixa de comprar um maracujá por isso, porque, o amadurecimento do maracujá vai deixando o maracujá mais doce, mais gostoso, mais pronto pra ser consumido, sem perder o toque fresco e azedinho que o caracteriza.

Se não fosse isso o bastante, eu seria a mulher-maracujá porque, como todos sabem, o maracujá acalma, tranquiliza, e eu queria muito ser assim, alguém capaz de trazer serenidade aos outros.

Outra coisa, é que quase todo mundo gosta de maracujá. É uma fruta que, mesmo cheia de personalidade, consegue agradar a muitos. Sem perder seu charme.
Além de tudo, em inglês, maracujá é passion-fruit, a fruta da paixão. A origem do nome, já me informei, refere-se à paixão de Cristo, e não à paixão que eu sinto tão intensamente... O que não impede que eu atribua outro significado a isso, e seja assim, a bonitona-fruta apaixonada!



quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Segredo do Universo

Depois da traumática experiência de ouvir o que o universo me reservava, uma amiga me contou O Segredo. Eu tinha que entrar em contato com o Universo de uma maneira energética mais ampla, sintonizando minhas energias com as energias universais. Ok. Lá fui eu.


Segundo ela, eu não estava mentalizando do jeito certo o que queria, e a técnica para a realização dos objetivos pessoais consiste em pedir objetivamente ao universo o que eu queria pra mim. Ainda, me ensinou uma técnica em que eu deveria escrever, diariamente na agenda, o que queria, para que o universo lesse minha agenda (foi o que entendi) e mandasse as energias favoráveis à realização dos meus propósitos.

Munida do caderninho linha direta, como denominei o meu, fui lá e escrevi:

"Hoje, 31 de outubro de 2008, quero casar."


Achei que não estava muito objetivo. Vai que o universo lê "hoje, 31 de outubro de 2008, quero casar"e acha que eu queria casar só no dia 31 de outubro de 2008. Risquei e esclareci:


"Quero casar".


Ai, achei que ficou muito genérico. Não ando podendo correr o risco de o universo pensar que eu quero casar daqui a 52 anos. Reescrevi de novo:


"Quero me casar até dezembro de 2010".


Fiz umas contas, achei que estava bom, em termos de idade (em dezembro de 2010 vou estar com 29 anos), e que dois anos era um bom prazo pra eu organizar minha vida. Porém, ponderei que, em dezembro, já tem muitas festas (formaturas, natal, reveillon), e dei mais uma mudadinha:


31/10/2008 - "Quero me casar até novembro de 2010".


Li mais uma vez. Tava esquisito. Pelo menos hoje eu quero me casar com uma pessoa específica. Já que é pra ser precisa, corrigi de novo:

31/10/2008 - "Quero me casar com meu namorado atual até novembro de 2010".


Li. Reli. Achei bom. Fui dormir.


No dia seguinte, acordei meio em pânico. Achei que eu tinha deixado muita coisa na mão do universo. Afinal, era o sonho da minha vida, eu podia ter sido bem mais precisa, porque eu sei o que quero, em detalhes. O escritinho do dia seguinte ficou assim:


1/11/2008 - "Quero me casar com meu namorado atual até novembro de 2010, numa cerimônia na igreja, seguida de festa para as famílias e amigos, aproximadamente 300 pessoas. Quero um vestido lindo, segundo o meu padrão de lindeza, e uma decoração em tons de amarelo e lilás. Faço questão de música boa, e de que não chova no dia. Além disso, não quero que o noivo me abandone no altar ou que ninguém fique muito bebado ou dê vexame. Quero que os doces sejam maravilhosos, porque eu amo doces."


Mais uma vez fui dormir em paz.


No terceiro dia, pensei que eu estava sendo muito folgada, pouco gentil com o universo que ia me conceder tantas gentilezas. Tirei os trechos que mencionavam coisas que eu não queria, para afastar o risco de o Universo se confundir, e pedi:


2/11/2008 - "Querido Universo, gostaria muito de me casar com meu namorado atual até novembro de 2010, numa cerimônia na igreja, seguida de festa para família e amigos, aproximadamente 300 pessoas. Quero um vestido lindo, no meu padrão de lindeza, e uma decoração em tons de amarelo e lilás. Faço questão de música boa, e de que não chova no dia e que os doces sejam maravilhosos. Tudo de bom pra você também. Laura"



No quarto dia, achei que não teria problema se eu acrescentasse um pedido de precaução, assim, só pra desencargo de consciência:


3/11/2008 - "Ei, Universo! Tudo bem com você? Então, como você já sabe, gostaria muito de me casar com meu namorado atual até novembro de 2010, mas gostaria que a data fosse marcada com pelo menos dez meses de antecedência (isso é opcional, mas menos de seis meses ficaria muito puxado!). A cerimônia eu queria na igreja, seguida de festa para família e amigos, aproximadamente 300 pessoas presentes (para eu poder convidar 350, mais ou menos). Quero um vestido lindo, no meu padrão de lindeza, e quero estar bem magrinha, cerca de 5o quilos, bumbum mais empinadinho e sem culote. Decoração em tons de amarelo (forte) e lilás. Faço questão de música boa, que não chova no dia e que os doces estejam maravilhosos.Obrigada demais! Laura (H, pra você não se confundir!)"


Então, no quinto dia:


4/11/2008 - Universo. Hoje estou muito cansada, mas continuo querendo me casar até novembro de 2010, com meu namorado atual, mas gostaria muito da data logo porque descobri que marcar qualquer coisa no ano do casamento é inviável. Planejamento é necessário, e as coisas encarecem no ano do evento e, por isso, precisarei que você se apresse um pouco. A cerimônia vai ter que ser numa igreja mais feinha, porque descobri que q que eu queria não tem mais data até 2011. A festa, com os 350 convidados e 300 presentes vai ter que ter umas pessoas que eu nem conheço direito, mas que minha mãe já avisou que faz questão de convidar. Tudo bem pra mim, se você não se importar. O vestido eu quero que seja bem lindo, já até pré-escolhi uns modelos, mas pode ser que até lá eu mude de idéia, então achei melhor não pedir ainda pra você um específico, pra não correr o risco de ficar baranga até lá. De qualquer maneira, não se esqueça: quero estar magrinha, sem culotes, com bumbum em pé. Decoração: orquídeas amarelas e outras flores em tons de lilás. Música boa, nada de chuva no dia e doces maravilhosos. É isso. Laura (H)".


Ontem, estava morta de tanto pensar no que escreveria para o Universo. Achei que estava perdendo o foco, resumi:

5/11 -"Universo, por favor, providencie meu desencalhamento, seja lá como for, até novembro de 2010. Deixo os detalhes (noivo, convidados, igreja, vestido, música e decoração por sua conta). Muito grata! Laura (H)"


No meio da noite, acordei aflita com essa pedição. Pensei que ficar escrevendo esse monte de coisas todos os dias até novembro de 2010 não ia dar pra mim. Tantas coisas urgentes na minha vida, o escrito ficou assim:

"Universo, desculpe-me pelos pedidos dos últimos dias. Ando querendo outras coisas ultimamente, e como o casamento é só pra novembro de 2010, vai virar nota de rodapé, pode ser? Então, não quero ficar te escrevendo todos os dias, estou me sentindo um cachorro pidão. De qualquer forma, é bom que você saiba que, imediatamente, quero só ficar magra, sem culote e com o bumbum durinho. Deve ser bem mais fácil que aquele casamentão todo. E, já que não vai precisar apressar o casamento, dá pra diminuir minhas celulites também? Valeu! Laura, a bonitona encalhada"

De manhã, porém, senti que estava diferente. Então, escrevi:

“Universo, esquece tudo. Só quero ser escritora.”

Para entrar no clima



Via láctea - Soneto XIII


Olavo Bilac




"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,


Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto


E abro as janelas, pálido de espanto...




E conversamos toda a noite, enquanto


A via láctea, como um pátio aberto,


Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,


Inda as procuro pelo céu deserto.



Direis agora: "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido


Tem o que dizem, quando estão contigo?"




E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido


Capaz de ouvir e de entender estrelas."

domingo, 2 de novembro de 2008

Ouvir estrelas

Já que a culpa do encalhamento é exclusivamente do universo, fui conversar diretamente com os astros. Quis, como Olavo Bilac, ouvir e entender as estrelas.


E, como no poema do Olavo Bilac, você pode até querer me dizer: "Tresloucada amiga! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi (também valendo-me dele): "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido/capaz de ouvir e de entender estrelas."



Por mais que falta de amor nunca tenha sido o meu problema, ou seja, eu já amava, o que me autorizaria a entender as estrelas, preciso confessar que não estava entendendo nada. O que será que o universo anda reservando para mim?


Como estava com a sensação de quem escuta, mas não entende bem as palavras, como quem precisa daquele aparelho de uso invisível, tratei de procurar uma intérprete para esse improvável diálogo. Sem titubear, marquei uma consulta com uma astróloga.




Não sou uma pessoa exatamente mística. Não gosto de cartomantes, adivinhas, bolas de cristal. Tenho extrema resistência com leitura de mão ou de borra de café. É claro que já procurei esses profissionais, se não faz bem, mal também não faz. Quer dizer, tenho medo daqueles que distribuem panfletos no sinal, com ameaças do tipo: "trago seu amor em 24 horas, desfaço qualquer trabalho, curo impotência, afasto mal olhado"...


Acho que há um limite para eu me envolver em assuntos sobrenaturais e prefiro evitar qualquer tipo de pessoa que me prometa amor (ainda mais amor alheio) em 24 horas.

Por outro lado, a astrologia sempre me pareceu mais confiável, com suas contas e sua ciência. Afinal, se os astros efetivamente mostram a melhor época para plantar e colher, guiam os navegantes, e, mais que isso, determinam o movimento das marés e o crescimento dos meus cabelos, me parece razoável que saibam um pouco sobre minha personalidade e meu destino.


Mesmo porque, poucas expressões são mais charmosas e românticas que "o nosso amor estava escrito nas estrelas".


Imbuída nesse estado de espírito, lá fui eu de coração aberto (e mão idem, porque paguei caro mesmo, quase o preço de um psiquiatra de gabarito), para ouvir as estrelas.


A astróloga era super profissional, nada estereotipada. De terninho, óculos fashion, maquiagem bem feita, em nada lembrava o que eu tinha na cabeça. Ela foi logo falando que era engenheira, mas que tinha estudado muito a astrologia, até que passou a se dedicar exclusivamente a isso (o tanto de diplomas na parede confirmava o estudo) e que, agora, estava pensando em cursar psicologia, para fazer a ponte perfeita entre os astros e as pessoas.


Começamos a consulta. Ela imprimiu meu mapa (do momento atual, porque o mapa natal eu já tinha feito antes). Ela me explicou que ia expor as tendências, porque nada era determinado, mas que eram rumos aproximados, caminhos a serem percorridos, e começou:


-Você é fogo, como toda sagitariana. Inteligente, mas um pouco desfocada, impulsiva, sua roda da fortuna está no trabalho, ou seja, é seu ponto de maior sucesso na vida...


(Comecei a pensar: será que horas ela vai falar do casamento? Será que isso pelo menos começa a aparecer no meu momento atual?)


- Você é muito esperta, interessada, sonhadora...


(Na parte do sonhadora eu pensei: agora vai puxar pro sonho de casar. Mas nada. Bateu na trave e saiu pela tangente:)


- Como boa sagitariana, gosta de viajar, se aventurar...


(E eu pensando: será que existe aventura maior que um casamento?)


-Conhecer o novo...


(Conhecer o novo? Novo o quê? Marido? Namorado? Pretendente?)


- E você não gosta de rotina, né?


(Não gosto mesmo, mas não acho que casamento seja rotina.)


- Não gosta de estar presa a alguém...


(Presa não, mas casada eu bem que gostaria.)


- Enfim, vi que seu foco no momento é o profissional, seu namoro está encaminhado, parece que vai continuar estável...


(Encaminhado? Estável? Até quando vai ser namoro isso?)


- Então, vamos falar da sua convivência familiar e dos seus projetos profissionais, que são o que o seu mapa está pondo em evidência e blá, blá, blá...


Tudo bem que eu não posso impor o que o universo tem a me dizer. Entretanto, só mencionar que meu namoro está encaminhado e estável me dá a impressão de que ele está é de maldade comigo. Poxa, não é possível que ele (o universo) não esteja ciente do que me angustia no momento. Se fosse pra falar de vida profissional, eu contrataria uma empresa de recolocação, e não uma astróloga. Comecei a ficar impaciente.


Ela ainda me explicou que estou no meu inferno astral (como, aliás, eu mesma havia deduzido, depois de nenhum pitaco sentimental e mais um investimento sem retorno).


Conformada, perguntei:


-Então, esse panorama dura até quando? Até quando essas perspectivas estarão em vigor?


-Pelo menos até seu próximo aniversário (em dezembro de 2009, no caso).


- Ah, tá, disse eu, já cabisbaixa. E não tem nenhuma hipótese de, sei lá, reverter essas tendências?


- Bem, pode haver um movimento atípico dos astros, algo surpreendente e inesperado, mas, é pouco provável.


Não consegui me manter contida, eu tinha que ser objetiva, afinal, o relógio estava correndo, a consulta acabando e eu ia sair dali condenada a mais um ano de encalhamento:


- E, assim, não tem nada ai que deixe você ver um casamento ano que vem?


-Olha, sinceramente, seu mapa não indica tendências a sair de casa, nem a novas uniões ou remanejamento familiar...- disse ela, educada.


Sem nada a fazer, sem resposta para dar ao universo que não falava nada sobre o assunto, pensei, tentando me consolar: é, o meu amor pode até estar escrito nas estrelas, porém, o casamento...


A crise das poupanças

Que as bolsas estão em crise, todo mundo sabe. Que a crise pode chegar até nós, todo mundo também sabe.

Agora, vou contar a novidade: para mim, a crise já chegou. Estou na crise das poupanças.


Minha poupança de dinheiro está em crise porque não estou conseguindo poupar nada. Minhas atividades poupativas estão amplamente prejudicadas pelo meu absoluto descontrole diante das maquininhas de cartão de crédito. Eu simplesmente esqueço que a fatura um dia vai chegar. Adoro parcelar as coisas e depois odeio ver a lista de parcelas na fatura.


Não consegui economizar nada ultimamente. Nadica de nada. E ainda perdi um muito do meu (pouco) dinheirinho economizado, com essa crise louca das bolsas. Bem feito pra mim. Devia ter gastado tudo, em vez de ficar pensando no futuro e colocar meu dindin na bolsa, devia ter investido em bolsas dos meus sonhos: Louis Vitton, Gucci, Prada, Marc Jacobs, bolsas que eu entendo bem mais e que são bem chiques que a Bovespa.




Não bastasse as bolsas terem despencado, meu bumbum também despencou. Despencou e aumentou. Ou seja, minhas duas poupanças estão em crise, sendo que a poupança que eu queria que aumentasse, diminuiu, e a que eu queria que diminuísse, aumentou. Acho que bem mais que 50% no último ano.


A queda do bumbum traz uma crise de auto-estima quando me olho no espelho tem tido consequências dramáticas no meu ser.


Sei que não devo ser julgada pela minha forma física. Sou uma moça cheia de atributos: estudada, esclarecida, simpática, gentil, um pouquinho culta...mas que eu queria ter também uma barriga chapada e uma bunda durinha, isso eu queria, queria no fundo do meu ser, obviamente, porque não consigo (ainda, espero) ter força de vontade suficiente para amar a academia, as saladas e chás coloridos (verde, branco e, agora, vermelho) que potencializam o emagrecimento.


Eu sei que chique é ser inteligente, mas ser magra de bumbum empinadinho também é chiquérrimo. Todas as pessoas chiques que eu conheço são magras. Não anorexicamente magras, só magras, num padrão normal de magreza. Alcançável com disciplina, moderação, bom senso e ginástica. Receita que todas sabe e poucas seguem.


Fico pensando: tudo que estava no tal fundo de investimento, deveria ter sido investido nos meus próprios fundos, quero dizer, na minha poupança, ou, mais claramente, no meu bumbum mesmo. Devia ter pago um personal, comprado mil roupinhas de ginástica, aparelhos, massagem, creminhos. Depois dos 25, a gravidade começa a ser uma lei sem brechas.


Não bastasse o contexto de queda geral, o verão se aproxima. Época de gastar mais (Natal, viagem de fim de ano, presentes...) e de expor mais a figura (praia, clube, sol, sol, sol)... De tanta celulite, vou ficar parecendo uma casca de laranja gigante ao sol, se decidir expor a figura.



Andei pensando em comprar umas dez burcas, em diversas estampas, para usar por ai. Só que lembrei que estou sem dinheiro e a idéia teve que ser adiada. Indefinidamente.

Já estou em crise.

Sob controle

Não sei por que algumas mulheres (bonitonas, em grande parte) encalham e outras não.
Principalmente, não sei bem por que eu estou encalhada. Acho que fiz tudo certo, tudo do jeito que tinha que fazer. O mundo é injusto. E, felizmente, ainda bem que a injustiça contra mim cometida foi apenas o encalhamento. Aliás, o encalhamento e o culote. Podia ser bem pior.
Eu poderia estar passando fome, vivendo num país em guerra, ter vivenciado uma catástrofe natural (terremotos, vulcões, furacões, tsunâmis). Eu poderia ter que assistir Marcia Goldsmith 24 horas por dia. É até muito light ser só encalhada.
Porém, mesmo sabendo de tudo isso, às vezes ainda penso: onde foi que eu errei?
A gente tem essa mania.
Mania de achar a culpa do mundo a partir do que somos. Aí você (eu), simplesmente, desconsidera o universo - que desde sempre funciona sem você (eu) - e começa a querer controlar tudo. Controlando tudo (como você - e eu - achamos que fazemos), a culpa de alguma coisa sair errado vai ser só sua. A gente desconsidera os anseios, espaços, vontades e sonhos do outro.
O problema todo é que a culpa não é sua, nem minha, nem nossa. Infelizmente, nem deles (entendendo-se por "eles" todos os homens do mundo que poderiam nos desencalhar).
Não há culpa.
Não foi por que você não saiu naquela sexta a noite em que encontraria fatalmente o amor da sua vida. Não foi por que escolheu vestido vermelho curto em vez do verde longo. Não foi porque não respondeu ao email daquele colega de faculdade ou porque estava no banho quando tocou o telefone de um número não conhecido que podia ser aquele paquera mais interessante que sumiu.
Não é porque até hoje você não sabe cozinhar. Aposto que muita gente que não sabe está casada, e muita chef de restaurante 5 estrelas está cozinhando pratos individuais.
Há sonhos.
Há expectativas.
Há ansiedades.
Há pressões (e depressões, por elas causadas).
Sonhos que não são só seus (são da sua mãe, da sua avó, das suas amigas...).
Expectativas de que os sonhos se realizem.
Ansiedades que demandam quilos e quilos de chocolate e noites mal dormidas.
Pressões que são veladas: e ai, Laurinha, esse noivado sai ou não sai? Nossa, você sabia que Fulana vai casar? E ela só tem dois anos de namoro. Há quanto tempo você namora mesmo?
Pressões que são explícitas: você não tem medo de ser difícil engravidar depois?
Mas, se você entende que a culpa de não ter sido a vencedora da mega-sena no último sorteio não é sua, você tem a capacidade de entender que não é por nada que você fez (fiz) ou deixou (deixei) de fazer que está(estou) encalhada. É claro que você tem que fazer sua parte. Pelo menos, jogo na loteria, tento me cuidar, ser cada vez mais bonitona enfim, o que está no meu alcance. Mais que isso, agora quero viver esse finzinho de encalhamento (não é possível que eu vá ficar mais 26 anos encalhada, espero) com tudo o que ele tem de melhor!
Eu já vivo uma vida de grandes amores: amor de pai, de mãe de irmã, de amigas. Amor de vô, de vó, de tias. Amor de namorado.
Casar, hoje, não depende de mim. Depende de uma infinidade de fatores que não estão sob o meu controle.
Foi o só o universo que não conspirou a meu favor. Ainda.