terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Photoshop da vida

Há algum tempo começaram as campanhas contra o uso excessivo de photoshop nas imagens que são veiculadas pela mídia, mais ou menos na mesma época em que começaram os protestos contra a magreza e juventude excessiva das modelos. Eu apoio as duas causas que, para mulheres reais e com algum problema de autoestima (dentre as quais me incluo) são muito interessantes. Essas campanhas ficaram conhecidas pelo nome que a Dove deu: Campanha pela Real Beleza.

Agora, porém, estou lançando uma nova campanha: campanha pela real felicidade nas redes sociais.

Sim, eu tenho orkut, facebook, msn  e twitter. E, ultimamente, me sinto o cocô do cavalo do bandido quando entro em cada uma dessas "ferramentas de interaçao". 

Nunca encontrei uma pessoa que escrevesse: estou de TPM, em dúvida sobre minha carreira e puta com minha suposta melhor amiga. Não. Todo mundo está sempre feliz demaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais, legal demaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais, animado demaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais.... Todo mundo mandando beijoooooooooooooooooos, uhuuuuuuuuu, aeeeeeeeeeeeeeeeeeeee....

Não que eu seja uma pessoa amarga, carente, chata (ok, pode ser que eu seja, mas eu não acho - hoje, pelo menos, não estou achando, mas tem dias que sim, confesso, eu acho). Só que não é possível que eu seja a única pessoa no mundo que não esteja sempre com um sorriso de orelha a orelha. Outro dia entrei na página de uma amiga (primeiro que é absurdo o tanto de "amigos" que a gente tem nesses lugares...amigo, pra mim, é uma coisa um pouquinho mais selecionada, mas, vamos lá...) e ela tinha 827 amigos. E não dava mais pra ser "amigo" dela e ela teve que criar outra página pros novos amigos.

Gente, que isso?! Amigo leva tempo, sabe? Tem que mandar email, conversar, encontrar (mesmo que seja de ano em ano), e eu amo fazer tudo com e por minhas amigas e amigos, mas, sinceramente, não dá pra ser tão amiga numa só vida.

Será que ninguém nunca pode dar uma forcinha pras minhas questões existenciais e confessar: bebi além da conta e falei batatinha? Ou "Estou pensando na vida e quero pedir desculpas as pessoas que magoei sem querer"...Será que é tão difícil assim escrever uma coisinha como: errei a mão no fim de ano e perdi minha calça preferida? Só pra dar um ar de realidade à coisa? Pra que algumas pessoas imperfeitas - como eu - se identifiquem e comecem a achar que, na verdade, elas não são tão estranhas assim?

Porque, do jeito que as coisas estão/são, o que acaba acontecendo é que (eu, pelo menos, confesso) acabamos repetindo o comportamento e vendendo (postando), nesses espaços, a ideia de que nossa vida também é perfeita.

E ai, pessoas normais, como eu (pelo menos eu acho que sou) acabam se achando completamente anormais. E ficam com vergonha de se sentirem normais (e não suuuuuuper felizes) de vez em quando.

Sabe assim? Porque photoshop de imagem, a gente resolve muito mais fácil que photoshop de vida. Uma overdose de felicidade alheia pode ser muito mais massacrante do que umas fotinhos que a gente sabe que foram tratadas.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Para lembrar

Olha só, a vida não é fácil, mas ninguém disse que seria.

Às vezes a gente se sente perdida, as vezes a gente se sente achada, varia mesmo e é normal que seja assim. O maior amor nem sempre é o que durou mais, nem é aquele amor à primeira vista. Aliás, as vezes, o amor da sua vida pode ser a milésima vista.

Amor precisa de tempo pra acontecer. A gente não ama de cara, de supetão. Aliás, pode até suspeitar que vai, mas amar, confirmado, só depois que a gente sabe mesmo.

Amar dá um trabalho danado.

Mas faz um bem danado também.

Conclusão

A tristeza é como o frio. Não passa, mas a gente tem que acabar se acostumando a viver com ele.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Vovô Fifi

Outro dia ouvi dizer que toda carta chega a seu destinatário, basta que seja escrita. Por isso, estou escrevendo esta carta, para avisar que a minha dor e meu amor, de mão dadas, atravessaram o oceano pra estar com você nestes últimos dias.

Para dizer que, a partir de hoje, eu não acredito mais que as pessoas morram, porque sei que, em mim, você vai continuar muito vivo. Em mim e, tenho certeza, em todas as pessoas que tiveram a alegria de poder conviver com você nestes 95 anos tão bem vividos. Em mim e em cada um dos seus 12 filhos, 30 netos e 13 bisnetos (até agora).

Continua viva a lição de que doce de leite não vem na porta de casa (que foi o seu jeito de ensinar à minha mãe que quando a esmola é demais, o santo desconfia e que ela me ensinou com as suas palavras). Continua viva a sua expresão de encantamento e alegria quando via o mar, que você amava tanto, apesar de tê-lo conhecido quando já era adulto há muito.

Continuam vivas as caixas de bombom Garoto que você nos dava em nossos aniversários e as palhas de milho que usava para fazer seus cigarros. Continua viva a barba por fazer que esfregava em nossas bochechas e a mão que (há tanto tempo) costumávamos beijar para pedir a benção. Continua viva sua mania de guardar os jornais dos dias super importantes, o que me deu (e ao Dudu também) uma fama considerável quando, na quarta série, levamos ao colégio a edição original do jornal que anunciou a morte de Getúlio Vargas.

Certeza: continua viva essa braveza, ah, a braveza de todos os Ribeiro. Um "aborrecimento" sem tamanho e que, apesar de tudo, nunca diminuiu, em nada, o amor que sentimos pelo senhor. Continua viva essa disposição para o trabalho, para não fugir da raia, para encarar os desafios de todos os dias com dignidade e cabeça sempre erguida.

Continua vivo o último conselho que me deu, com um puxão de orelhas: quando a gente casa, a saia tem que ficar mais comprida, viu?

Continua vivo o orgulho de ter um avô que, depois de uma vida inteira, inventou que queria ser diferente, e se permitiu aprender a dançar. Que se permitiu seguir dançando, mesmo quando já não ouvia as músicas, pelo simples fato de que a vida é mais feliz quando a gente dança. Fica a lembrança do seu aniversário, quando eu, Aninha e Paty decidimos ir na festinha que teria no Clube da Maturidade, e tivemos que enfrentar os olhares desconfiados de suas parceiras de dança.

Continua viva a alegria de ter um avô que nunca perdeu a capacidade de se encantar com os lugares (novos e velhos) e que adorava arrumar sua malinha e viajar, para onde quer que fosse. De um avô que, ao se surpreender com a possibilidade de conversar com o Dudu, do outro lado do mundo, pelo computador, começou a chorar e a acariciar a tela.

De um avô que, como não ouvia, acabava falando mais alto do que deveria no meio da missa. De um avô que amava ser visitado e que, de uns tempos pra cá, passou a aceitar qualquer beijo estalado, fechando os olhos e agradecendo sempre: obrigado, obrigado.

E, quando eu fecho os olhos, lembro do dia da novena, em que, comigo, mamãe e tia Izildinha, você, que não estava ouvindo uma só palavra do que dizíamos, levantou as mãozinhas e começou a cantar: "Em nome do pai, em nome do filho, em nome do espírito santo, estamos aqui..." e as lágrimas que me vieram naquele dia, quando começamos a cantar com você, voltam todas hoje, para simplesmente agradecer a oportunidade de tê-lo tido em minha vida, por todos esses 28 anos.

Sei que, de uns tempos pra cá, você começou a se organizar para ir embora, embora a gente não gostasse (e eu ainda não gosto) desse assunto. Mas também sei que te incomodava muito ir a enterros vazios, e, só por isso, para que você fique mais tranquilo, aviso nesta carta que foi um enterro muito cheio e repleto de amor.

Acredito, por fim, que Deus não te deixou sofrer nenhum minuto e que decidiu te levar para aliviar o seu sofrimento, porque, afinal de contas, Deus te quer sorrindo. E nós também...

Tenho certeza que você está sorrindo e descansando agora, ao lado da Vovó Magui e do Tio Gabriel.

Te amo muito e me despeço pedindo sua benção para continuar.

A benção, vô. 

Laura