domingo, 8 de novembro de 2009

Voltar a fita e queimar o filme

Muito embora eu me considere nova, sou de uma geração diferente da que vejo nas ruas hoje em dia.

Me lembrei então da música Faroeste Caboclo. Não é exatamente uma música da minha geração, mas é uma música que me chamou a atenção, assim como Eduardo e Mônica, talvez por ser uma historinha com começo meio e fim. Fato é que, quando a ouvi  pela primeira vez, fiquei querendo saber a letra e, naquela época, peguei uma fita k7 emprestada da minha tia Raquel (que tinha a tal fita) e copiei.




Com minha própria fita k7, mas sem o encarte da fita original, passei boas horas ouvindo, anotando e escrevendo a letra da música, voltando a fita toda vez que a pronúncia do Renato Russo não ajudava. Sem brincadeiras ou exageros, lá se foi pelo menos uma tarde nesse exercício. A música tem nove minutos e dá um trabalhão danado fazer essa transcrição. E eu lá, voltando a fita.

Aliás, voltar a fita é uma dessas expressões que, daqui a uns anos,deve se tornar meio inexplicável, já que, hoje em dia, as únicas fitas que as pessoas conhecem são fitas de cetim, de presentes.

Mas, voltando a fita, depois de tanto investimento (compra a fita, grava a fita, ouve a fita, volta a fita, ouve a fita de novo, volta de novo, ouve de novo, e de novo e de novo), a gente dá mais valor as coisas.

Uma experiência boba, mas muito diferente da que tenho hoje, quando quero uma música (baixo no computador) e quando quero a letra, jogo no google. Assim, tendo as coisas de imediato, qualquer espera vai se tornando longa, a gente vai perdendo a percepção do que é realmente urgente. Outro exemplo são as fotos.




Antigamente, coisa de sei lá, sete anos, as máquinas de fotos eram com filmes. A gente batia as fotos com a esperança de que elas ficassem boas, porque não dava pra ver se alguém tinha fechado o olho, feito uma cara estranha, ficado de boca aberta, virado bem na hora. A gente só descobria essas coisas quando as fotos eram reveladas (e revelar as fotos não era em 1 hora, mas em dias...). Por outro lado, como havia todo um investimento (compra o filme, tira as fotos, leva pra revelar, espera), a gente tinha todas as fotos impressas, e não esquecia nenhuma mofando (como hoje acontece, quando vemos as fotos na máquina ou no computador...

Além disso, sempre havia a chance de, por um azar danado, o filme queimar e queimar o filme é outra expressão que, daqui a pouco, estará completamente dissociada desse sentido original.

E ai hoje, quando pesquisamos letras e músicas em menos de um minuto, quando vemos as fotos na hora, apagamos na hora, tiramos outra na hora, eu fico querendo tudo a tempo e a hora, tudo agora, sabe?

Ontem, quando entrei no carro, estava tocando Faroeste Caboclo. E eu lembrei da letra que me deu tanto trabalho, e me lembrei da adolescente que um dia fui: determinada, dedicada e feliz. E fiquei feliz de ter essa lembrança e de saber que, em algum lugar no meio de mim, essa mocinha ainda existe e vai saber esperar a hora de as coisas acontecerem, sem queimar o filme, se Deus quiser.






PS: Mesmo tendo ouvido 839 vezes a música eu não consegui entender o que o Renato Russo canta no minuto 7:22/7:24. Ainda bem que, no google, consegui a letra. "Se a via-crucis virou circo estou aqui". Dificil, né?

Videozinho do youtube, como sempre, roubado da deiafhm.

13 comentários:

Vinicius disse...

Boa tarde.Sou visitante novo, descobri o teu blog através do blog C'est la vie.Muito legal as tuas confissôes, já queimei muito o meu filme nessa vida...(risos),acontece com todos.(normal).Voltarei mais vezes para curtir estas tuas confissôes bem humoradas:O).Tenhas um ótimo fim de semana.
Abraço.

Tia Raquel disse...

Laurinha,
o engraçado é que, como não tinha google, a gente transcrevia como ouvia e, muitas vezes, errado. No 4:36, até a presente data, eu achava que era "Fui cabreiro como um peixe de ascendente escorpião", o que quer que isso signifique. E no da via-crucis, eu cantava para quem quisesse ouvir: "Sabia truques, virou circo, estou aqui". Pelo menos, ficava original. Beijos

Mariana Bicalho disse...

Adorei!!!
Fazia a mesma coisa pra saber a letra das músicas! rsrs
Bjo.

Dai disse...

Adorei o post.
Passei, ainda que pouco tempo, na época (nao muito distante) dos filmes e fitas cassetes.
Mas é incrível como as facilidades estão aí, bem na cara.
Eu tinha um livrinho de musicas, que eu escrevia[tudo errado] as letras. Mas era um tempo calmo e feliz.
Hoje vou no vagalume e pego milhões de letras...mas ainda assim imprimo e aprendo.

Quanto a faroeste caboclo, confesso: Nunca decorei a letra.

E essa parte aí, obrigada..eu embolava na hora de cantar e saía algo em hebraico ou outro remoto idioma.

Beijinhos...
Boa semana pra vc

Catarina disse...

É impressionante como, mesmo estando a quilómetros de distância, tu consegues escrever aquilo que eu penso. É sério, eu fico parva! E acreditas se te disser que estava (e estou) a ouvir essa música enquanto lia e escrevo? Juro! Eu adoro Legião Urbana, muito muito muito!
E fazia a mesma coisa que tu, ficava horas com a cassete para trás e para à frente até conseguir as letras das músicas! Hoje é tudo mais fácil, não tem piada. O mesmo acontece com as fotos. Antes era empolgante, porque tinhas que esperar pelas fotos para saber se tinham ficado bem, enquanto que agora é tirar e ver e se não ficou bem, apaga! Tudo tem um lado bom e um lado mau, mas há muitas coisas da minha adolescência de que eu sinto muita falta! Sem saudosismos, mas sinto muita falta...
Já te disse que gosto muito de ti?

Bonitão Créu disse...

Bonitão Créu roubou da banca uma revistinha com letras cifradas para violão que tinha Faroeste Caboclo, pra evitar a fadiga do play, stop, play, stop,...

Lau disse...

Ai Laurinha! Adoro ler seus posts. Essa confissão sua, me fez lembrar das viagens de carro... das mil brincadeiras que a gente fazia até chegar no tão estimado destino!
Hoje em dia com o acesso tão fácil ao avião as famílias nem convivem tanto. =(
Saudades de vc!

Ernani Netto disse...

Eu também acho que aprendíamos mais com as fitas, com as fotos de filme... hoje o mundo (e nós também) acaba ficando muito fácilde se "retocar".

Deu um imenso saudosismo!

Bjaum

JUJUbildes disse...

Hahahaha!
Eu fazia a mesma coisa tb, Laura! Nossa, tinha que ter muita paciência pra ficar voltando e parando a fita toda hora!
Boas sacadas as suas de lembrar que as expressões "voltar a fita" e "queimar o filme" em breve não serão compreendidas. Nunca tinha pensado nisso, acredita?
E tb de relacionar a rapidez de hoje com o fato de ficarmos cada vez mais querendo que as coisas aconteçam em instantes...
Adorei o texto! Pra variar!! ;)
Beijinhos!!!

Veri Prado disse...

Ai eu me lembro beeem disso tudo!! Muito fiz isso de voltar a fita!! Dava um trabalhão e tudo que dá um trabalhão a gente dá valor né?! Tanto é que até hj eu tenho algumas letras escritas de prórpio punho de 10 anos atrás!! E fotos então?! Muitaaas!!
Amei o post!!
Beijo!

Veri Prado disse...

Ai eu me lembro beeem disso tudo!! Muito fiz isso de voltar a fita!! Dava um trabalhão e tudo que dá um trabalhão a gente dá valor né?! Tanto é que até hj eu tenho algumas letras escritas de prórpio punho de 10 anos atrás!! E fotos então?! Muitaaas!!
Amei o post!!
Beijo!

Cíntia Mara disse...

Eu tb ficava horas sentada no chão ao lado do som escrevendo letras de músicas. Aliás, eu tive vários cadernos de músicas, coisa totalmente 'ultrapassada' em tempos de vagalume, letras.terra, cifras.com e etc.

Lembro dessa época com carinho, mas prefiro a praticidade que temos hoje.

Bjs

O Maltrapa disse...

Laura, se você achou complicado, ao menos teve a internet ao seu favor. Quanto à minha geração (nascida antes de 1980), imagine o estorvo que foi cantar a música em toda festa (porque tocava em toda festa), e sempre sem saber o que ele dizia naquela parte? Eu mesmo cantava "Se a cruzes(?0 virar circo estou aqui".

Valeu,

O Maltrapa