O Vinícius (posso chamar assim, porque me acho "a" íntima do Vinícius de Moraes) tem uma frase que eu amo (provavelmente eu e a torcida do flamengo, né?). Ele fala que "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".
Sendo assim, tão íntima do Vínicius, eu ouso dele - parcialmente - discordar. Bem, não é caso assim, grave, de discordância, é mais caso de completude: a vida é arte do encontro e do reencontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Mais do que encontrar, reencontrar é uma arte. Uma arte difícil, diga-se de passagem.
Encontrar tem o brilho da novidade: a gente não sabe nada do objeto encontrado (seja objeto, seja pessoa). A gente está diante do inédito, e vai, aos poucos, encontrando as semelhanças, o carinho, construindo a relação, seja lá qual for a relação a ser desenvolvida. É como achar um sapato novo numa loja, como achar um par de óculos: você olha mil modelos até encontrar um que te sirva, mas é só depois, com o uso, que a gente sabe se aquele encontro vai dar certo. É com o uso que a gente descobre onde o sapato aperta, não é?
Encontrar é uma arte, sim, mas reencontrar é uma tarefa mais difícil, não tenho dúvidas.
Reencontrar alguém que a gente amou muito no passado - independentemente da natureza desse amor, que pode ser (ter sido) amor de amigo, amor de amante - e que está num lugar especial da memória, é como olhar um retrato, é um exercício. O exercício de ver a beleza, a essência, no meio daquilo que era a gente naquele tempo. Não sei se fui clara, mas, pensem: você vê uma foto da sua adolescência e pensa "Deus, que desastre!", mas alguma coisa ali é você, ainda hoje. Pode ser o olhar, o brilho do cabelo, uma expressão pensativa... Muita coisa mudou, mas você já estava ali. Ao reencontrar o outro, a gente tenta se reconhecer hoje e reconhecer o outro, e saber o que (daquela relação e daquele outro) ainda está lá, dentro da gente.
Acho que os reencontros propiciam isso, um flash back, porque, no olhar do outro, no reencontro com o outro, a gente se reencontra um pouco com o que a gente já foi, e, às vezes, consegue ver o que a gente continua sendo, e descobrir o que a gente não é mais. Também no outro, a gente vê o que ele ainda tem e o que mudou... e isso inclui tudo, desde a aparência até o jeito de pensar.
Tem vezes que a gente reencontra alguém e pensa, até com uma dor de cotovelo embutida: hum...no meu tempo, você não era assim! Por outro lado, a expectativa do reencontro é sempre de mudança. A gente se decepciona se encontra alguém e fala: nossa, você não mudou nada! (O que só é um elogio se for referente à aparência)...
Agora, de repente, reencontrar alguém com quem a gente nunca deu muito certo - sim, isso também acontece, né? - também é complicado. É complicado porque, quando alguém marcou muito negativamente a nossa vida, a gente desconfia demais que a pessoa possa estar diferente. A gente olha sempre com aquela desconfiança (hunf, eu é que te conheço!!!).
Só que, felizmente, as pessoas mudam. Pode até ser que mudem pra pior, fiquem mais amargas, invejosas, negativas...mas eu prefiro acreditar que elas podem ter evoluído e, de um jeito ou de outro, melhorado, porque eu gosto de acreditar que, aos trancos e barrancos, eu melhorei, né? Cresci, amadureci (pelo menos eu acho, rsrsrsrsrsrs) e, se isso aconteceu comigo, pode ter acontecido com as outras pessoas também. Por isso, reencontrar é mesmo uma arte.
Os desencontros, depois de encontros e reencontros, vão sempre acontecer. Mas é a vida, não é?
E, no fim das contas, entre encontros, desencontros e reencontros, Vinicius segue certo, imbativelmente certo: é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração...
4 comentários:
Estava com tantas saudades destes textos inspiradores! Amei :)
Arrasou Laura!!!
Nós nos reencontramos depois de um tempinho longe, né?
E foi ótimo!!
Fantástico isso! O reencontro é um despertar e um exercício de generosidade. É como um segundo encontro amoroso... sempre apreensivo, pq o novo já não é mais novo, mas ainda não há a intimidade suficiente. Aliás, segundo encontro é um bom tema de post, não acha?! Um beijo,Rapha.
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