Hoje começa uma nova sessão aqui no blog. Atendendo a pedidos, vou começar a contar pra vocês minhas aventuras e desventuras como dona de casa. Espero que gostem!
Casar traz a tona uma série de novos desafios. Como diria nosso presidente, "nunca antes na história dessa bonitona", eu havia sequer imaginado as coisas pelas quais estava prestes a passar...
Eu sempre pensei que ser dona de casa não podia ser uma coisa tão difícil assim. Afinal, as mulheres têm sido donas de casa desde sempre, e eu acabei acreditando que, no processo evolutivo da espécie, deveriam ter sido desenvolvidos uns genes donos-de-casa que, por conseguinte, estariam embutidos em mim (em estado de hibernação), e que seriam automaticamente despertados no dia em que eu me casasse.
Tolinha.
Ser dona de casa é uma arte. Ou um aprendizado obtido a duras penas e, creio eu, longuíssimos anos de sofrimento. Por isso, hoje, quase um ano e meio depois do início dessa nova jornada em minha vida, venho a público desabafar: ó céus, ó vida, ó azar. Venho contar pra vocês, bonitonas, que acompanharam tudo, desde o começo, o que acontece quando a gente casa e, principalmente, quando a gente não tem empregada, faxineira e/ou diarista pra ajudar.
Quando casei, o plano era mudar em 1 mês (pra Escócia, onde resido hoje). Então, a gente não tinha casa própria e ficamos morando, de favor, na casa dos meus sogros, e depois na dos meus pais. Aquela maravilha, né? Tudo já em funcionamento. Só que a mudança de país acabou sendo adiada e, como quem casa quer casa, decidimos alugar um apê pra chamar de nosso. Considerando que a mudança estava atrasada e não descartada, o apartamento era mobiliado, todo prontinho, e o contrato de aluguel valeria por 3 meses.
Eu estava nas nuvens. Tinha TV, tinha cama, tinha até uma pequena bicicleta ergométrica. Dois quartos: um era o nosso, o outro era closet, academia, escritório e quarto de visitas (o nome mudava dependendo da função exercida no momento). Tinha também um pequeno cheirinho de gás, que era problema no encanamento, mas, até isso eu superei com alegria e empolgação. Até o dia de lavar roupa.
Olha, quando aluguei o apartamento, a proprietária me avisou que não tinha máquina de lavar, mas tinha tanquinho. Pensei: dá na mesma, né?
Um minuto pra você parar de rir e continuar lendo.
Prossigamos. Cheguei em casa, de roupa social, diretamente do trabalho e pensei: vou colocar a roupa pra bater, depois lancho, vejo novela, tomo banho e penduro as roupas. Decidida e repetindo os gestos da minha mãe, comecei a colocar as roupas no tanquinho (ainda achando que tanquinho era máquina). Depois de colocar as roupas. Olho pra ele e penso: e agora, josé?
Constatei que eu não possuía sequer a mais vaga noção do que fazer com aquilo. Não sabia onde ligava, não imaginava por onde a água entrava, não concebia quanto de sabão deveria por lá dentro e nem em que momento do processo isso devia ser feito.
Respirei fundo e pensei: Laura, não é possível que uma moça com duas graduações não consiga lavar a roupa suja, ainda mais tendo um tanquinho. Pensei errado.
Primeiramente, esclareço que o tanquinho não tem uma entrada de água. Ele depende da água da torneira do tanque, e deve ser conectado a ela por uma mangueirinha. Como eu não vi a tal mangueira para ligar no tanque, comecei a encher o dito cujo com um balde, maaaaaaaaas, obviamente, como a mangueira (por onde a água devia entrar) estava escondida atrás do tanquinho e voltada para baixo, em poucos minutos minha área de serviço (e meus pés e minha calça social) estava encharcada. E eu ali, intrigada, pensando: de onde está vindo esse tsunami???
Descoberta a origem do vazamento, conclui que a mangueira era pra água entrar E sair, quando a lavagem estivesse pronta. Encho o infeliz e - próximo passo - vou pegar o sabão em pó. Olho para a caixa - enorme - que me desafia: quanto sabão é necessário? Com quantos copos de sabão em pó se lava a roupa?
Decidi seguir à risca as instruções da caixa. Um copo cheio (do tamanho de um copo de requeijão). Fui ligar a coisa e: tcharam! Ainda tinha que escolher o programa!!! Exausta de tanto pensar, optei pelo caminho do meio, escolhi a opção média intensidade, liguei e sai, para, finalmente, colocar uma roupa que me permitisse acompanhar o resto do processo.
Bonitonas, eu garanto que não fiquei nem 5 minutos distante do equipamento, mas o tal tanquinho demanda olho vivo. Quando voltei, o dito cujo se arrastava pela área, soltando guinchos e flocos de sabão. Nuvens de sabão, para ser mais precisa, como aquelas que, na minha adolescência, foram moda por um tempo nas boates de verão. Um horror.
Em estado de choque, assisti àquilo por aproximadamente 20 minutos quando, enfim, tudo ficou em silêncio. O tanquinho estava há cerca de um metro do ponto de partida, por assim dizer. Ainda amedrontada, fui andando a passos comedidos rumo ao desconhecido.
Debrucei-me sobre ele e, completamente comecei a tentar resgatar minhas roupas ali perdidas.
Quem me conhece sabe que não sou alta. Tenho 1,58m bem medidos, quando estou com a postura de bailarina. Então, achar as roupas com aquele tanto de sabão, foi uma missão heróica. Praticamente dependurada no tanquinho, tirei todas as peças que consegui localizar. E, naquele momento, um estalo me veio, claro como um raio, cortante como uma lâmina: o tanquinho só bate a roupa! Ele não enxagua. Ele não centrífuga. Ele não seca. Tão principiante, sequer constatei que ele também não amacia... mas ainda vou abordar essa etapa.
Enxaguei peça por peça. Exausta. Vencida. Mais de duas horas já haviam se passado e eu não tinha feito nada do que planejara. Bem, talvez, pelo menos o banho eu poderia considerar tomado.
Penduradas as roupas, começou a chover na minha cabeça. Sim, porque sem centrifugar, as roupas pingam, a menos que você faça uma ginástica para ter bíceps de Feiticeira torcendo-as e eu, naquele momento, não tinha forças pra mais nada. Já estava encharcada mesmo, uma chuva na cabeça não vai ser tão grave assim...
Com o resto de dignidade que eu guardei num cantinho, esvaziei o tanquinho, com a mangueirinha e o balde. E fui rever os meus conceitos sobre afazeres domésticos.
Continua...na semana que vem!