terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Pulando as ondas

No reveillon de 2006 para 2007, decidimos fazer uma festa na fazenda. Como sempre, tomei banho antes dos outros, pra ter mais tempo de começar a cuidar dos preparativos. Enfim, pra ficar do meu jeito neurótico controlador vendo os outros se descontrolarem na hora em que todos os chuveiros teriam que estar ligados ao mesmo tempo.
Tenho pânico de filas e tumultos. Por isso, sempre tento planejar as coisas com uma certa antecedência e me antecipar. Se ninguém quer ser o primeiro a tomar banho, eu sempre quero, se todos querem ser os primeiros a jantar, eu não ligo de ser a última. Me programo para fazer outras coisas e não perder tempo nunca. Para mim, uma questão de logística que facilita a minha vida. Para outros, uma questão de neurose...
O fato é que, naquele reveillon, fui a primeira a tomar banho e estava lá, prontíssima, quando a maratona do revezamento quatro por quatro dos banhos das demais pessoas começou. Com a sobrecarga da movimentação, não havia mais água quente, ninguém achava mais as coisas e eu lá, na sala vendo o circo pegar fogo, sem poder fazer muito, senão assistir novela.
De repente, decido dar uma voltinha, sair da casa, e vejo que a sala estava com um fio de água, saindo de algum lugar então misterioso. Seguindo os vestígios, cheguei à fonte de onde emanava a água: uma pequena poça em volta do ralo do lavabo da sala. Fui lá dentro, peguei um pano de chão, e coloquei em cima da poça, pretendendo eliminar o problema. Em poucos instantes, o pano estava ensopado, e a poça começava a se transformar num pequeno curso de água.
Dessa maneira, o que começou com um simples riachinho, havia se transformado num curso de água cada vez mais caudaloso e que agora, voltava-se ameaçadoramente em minha direção. Como correr não era uma alternativa e como todas as outras pessoas estavam se arrumando, decidi, com a ajuda de uma moça que estava nos ajudando na limpeza, a por a mão na massa e o pano no chão.
Só que, como os banhos aumentava, seguidos uns dos outros, o entupimento não se revertia e muito menos as pessoas, já na umidade de sua higiene pré ano novo, percebiam o desastre iminente. Eu, que havia por algumas vezes naquele ano almejado passar a noite da virada pulando sete ondinhas, não queria, em nenhum momento, que fossem ondinhas de esgoto. Por isso é tão importante ter cuidado com o que se deseja.
Meus pés, até então secos, estavam sendo constantemente ameaçados e qualquer distração seria fatal. Mas eis que, sem razão aparente, o esgoto deu uma golfada, com bolhas e começou a sair espuma. Dois pensamentos se alternavam em meus dois neurônios naquela hora: ainda bem que veio espuma de banho, espero que ninguém decida fazer cocô, ainda bem que veio espuma de banho, espero que ninguém decida fazer cocô, ainda bem que venho espuma de banho...
Foi quando me ocorreu que eu também deveria temer xixi, naquelas circunstâncias, já que: a) xixi, naquele contexto, seria imperceptível; b) é muito mais provável que alguém se aventure a fazer xixi, enquanto outro está no banho, do que cocô...
E eu lá, puxando a água, freneticamente, suada, com os pés em todas as espécies de sujeira que as outras pessoas estavam tirando dos corpos delas...
Aos poucos, com os chuveiros sendo desligados, a água brotante foi diminuindo, até que cessou completamente.
Pelo menos, foi a tempo de eu lavar os pés, BEM LAVADOS, de todas as possíveis e prováveis inhacas alheias. Se bem que, retrospectivamente falando, 2007 não foi lá essas coisas...

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