quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amar o perdido

Eu realmente não sei se sou eu, se é o Natal, ou se é qualquer outra coisa que fuja à compreensão da minha vã filosofia. O fato é que estou assim, meio caidinha, meio melancólica, meio reflexiva (reflexiva e não teórica, como há pouco estive).

E tenho me assustado com a capacidade das pessoas, em geral, amarem o perdido.

Não me refiro a amarem "dar o perdido", como bem imaginou o bonitão créu, assíduo comentarista deste humilde blog, mas amar o que se perdeu, o que não tem remédio, o que já foi, se fue... Amar "dar o perdido" é até compreensível e imaginável, principalmente para bonitões créu, em tempos de tanta confusão e tantos desencontros amorosos, mas amar o passado é muito mais difícil e dói muito mais. Amar o perdido, na verdade, é amar o que já não é, mas que poderia estar sendo se ainda fosse (ok, sei que ficou confuso, mas releia umas duas vezes, porque foi isso mesmo que eu quis dizer).


Eu, obviamente, já amei o perdido, porque perder é sempre doloroso, sempre meio triste e, quando a gente perde, acaba ficando um tempo achando que era aquilo que a gente mais amava na vida. E esse é o primeiro ponto a ser considerado. Você amava a pessoa que perdeu OU acha que amava só porque perdeu e está se sentindo frustrada? Você queria terminar, ele veio e terminou primeiro? Você deu todos os motivos para terminar e agora descobre que amava loucamente? Estranho, porque a gente ama é no agora, não no ontem, nem no depois. Se em algum ponto você teve dúvida se amava, é porque não amava tanto, não é?
Ninguém quer perder nada que não sejam 2 quilos no quadril ou no abdômen e mesmo assim, os livros de auto-ajuda e neurolinguística recomendam veementemente que não se pense em "perder", mas em "pesar xx quilos". Dizem que o cerébro não gosta de processar informações que comecem com palavras negativas: não, não e não.


Porém, voltando ao tema do post, se amar o perdido deixava confundido o coração de Drummond, que se poderá dizer do nosso coração, meras bonitonas encalhadas? Quando um namoro ou relacionamento acaba, o tempo, a distância, a saudade, vão embolando as coisas na nossa memória e, com isso, mesmo as coisas nem tão lindas, quando findas, acabam se embelezando. A memória e a saudade são assim: embelezam e romantizam até as brigas por ciúmes, as desfeitas, as grosserias, deturpam nosso senso crítico e o passado vai se aperfeiçoando, até atingir uma perfeição idealizada que nunca iremos encontrar daqui pra frente. O que é pior, a perfeição que nunca existiu (nem vai existir) gruda na nossa história e contamina os nossos pensamentos e (pior!) as nossas percepções do que está acontecendo no momento presente.


E, nessa toada, tem gente que passa, dias, meses, semanas, anos (sem exagero), criando uma fantasia amorosa com alguém que já não é. Literalmente, alguém que já era. Primeiro, porque a cada dia as pessoas se transformam, se reciclam, se renovam, e é impossível que alguém seja, depois de três anos de término, a mesma pessoa com quem você namorou. Nem você.
Segundo, porque a gente começa a ter uma relação muito louca com o passado, alimentando fantasias e esperanças que não tem base nenhuma na vida real e não acrescentam nada. Exemplo: você encontra sua amiga no shopping. Ela terminou há seis meses, mas tem uma festa semana que vem, com a possibilidade (remota) de o ex estar presente. A bonitona está louca no shopping, comprando vestido e sapato em 6 vezes, pra mostrar pro ex que está linda e super pra cima. O ex tem outra, mas a bonitona "tem certeza" que ele não superou o amor que eles um dia viveram. Com certeza ela vai estar linda, mas a festa está fadada a ser um fracasso.

Em vez de se preparar para os vários bonitões que poderão vir a ser, a pessoa investe no passado. resultado, vai passar a festa inteira pescoçando para ver se o moço chegou. Se ele chegar, ela vai olhar mil vezes pra ter certeza que ele a viu, esboçar um sorriso de cumprimento, ver que ele está acompanhado - ou olhando pra outra, e sair decepcionada. Se ele não for... pior ainda.

Acho muito triste quando uma das partes segue em frente e a outra ancora em um ponto do passado, continuando a viver, no presente, como se não fosse possível ter outra chance, com outra pessoa. Ora, eu sou a mais romântica de todas e, talvez por isso mesmo, me recuso a achar que estejamos condenados a um só amor na vida.

Amar o perdido é muito triste. Por isso, desejo que, neste Natal, todos possam aprender a deixar o passado no passado e a encarar a possibilidade de amar - de novo - os achados, do presente e do futuro.

Melhor que isso, deixe-se achar. Seja achada. Um achado raro e valoroso. Deixe de ser o passado de alguém e tente se tornar o seu melhor presente.

7 comentários:

Renata Rodrigues disse...

Parabéns pelo post!

"Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente".
William Shakespeare

Vale a pena? Claro que não!
Beijo!!!

Anônimo disse...

Em quais hipóteses um amor pode ser considerado um amor perdido? Fazer papel de pratinha se aplica?

Laura H disse...

Fazer papel de pratinha não se aplica. O problema é ser loucamente apaixonada por uma pessoa que nitidamente não quer mais NADA com vc. Se o cara é MR. Big e vc encara ele como tal, sem problemas. O problema é viver em função de um amor que não é mais, sequer minimamente, correspondido. Pior: se tornar desagradável, grudenta, chorar em festa na frente do ex e da atual...Acho que é mais por ai mesmo. Bjoooooos

Anônimo disse...

Ufa!!!

hahahahahaha

Aliás, sei que vc acompanha o blog da Paula, como eu...

O que você acha do último post dela sobre as armas das mulheres?? O que vale arriscar na conquista? O que não vale?

Laura H disse...

Olha, eu, sinceramente, acho muito feio cobiçar o homem da próxima. De resto, vale muita coisa...maaaaaaaaaaaaas, estou pensando em um post inspirado nisso, acompanhe!

Catiluva disse...

Amar o perdido, na verdade, é amar o que já não é, mas que poderia estar sendo se ainda fosse..Nossa, essa frase é TUDO! Sem sombra de dúvidas, este é o melhor post que li até agora. Tocou fundo em mim, porque está bastante bem explicado, mto mesmo! Até me arrepiei...

Anônimo disse...

Oi Laura,
Se fosse possivel eu postaria a cena de um filme que viria muito a calhar. O filme e Sob o sol da Toscana e a cena a da joaninha... fica a sugestao.
Cuide do seu jardim e joaninhas virao ate vc!!!