Um coração dividido.
Metade é um amor sólido, construído no dia a dia, testado e aprovado. As duas pessoas se amam, as duas famílias se aprovam mutuamente.
A outra metade é uma terceira pessoa, um terceiro interessado, que surge ou ressurge de um jeito mais intenso. Só que esse terceiro interessado é uma pessoa alheia à história dos dois primeiros. Ele tem aquele vigor de paixão nova e, talvez, um potencial para ser um grande amor, mas tem a desvantagem de (ainda) não ter sido experimentado, e trazer, implícito, o risco de atrapalhar completamente o que já está dando certo. Mas traz o gosto da novidade, um ar de emoção a algo que pode estar um pouco morno.
Engraçado é que este tipo de situação é linda nos filmes, nos livros, mas eu não conheço nenhuma pessoa que, NA VIDA REAL, tenha vivido esse tipo de situação. Na verdade, posso até conhecer alguém que tenha vivido, mas ninguém teve a coragem de me contar. O que acho certo, particularmente, porque é um jeito de respeitar a outra pessoa envolvida, o que ama todo dia e bonitinhamente.
Já que na vida real não conheço nenhum caso concreto e mesmo que conhecesse não iria falar aqui no blog, e considerando que eu já estava fazendo uma lista de posts sobre cenas inesquecíveis de filmes, queria falar um pouco sobre "As Pontes de Madison".
Olhem só, é um filme das antigas, mas é muito recomendado, é um filme assim, que ensina a gente a ser mulher. Adulta. Eu vi adolescente, no colégio, revi na faculdade e me inspira demais. É um filme sobre uma das coisas mais dificeis da vida: fazer escolhas.
A história (vou contar, quem não tiver visto, corra pra assistir) é de uma mulher casada, no interior dos EUA, esposa de um fazendeiro e com dois filhos, crianças. Uma mulher absolutamente normal.
Um fim de semana, o marido e os filhos vão a uma exposição agropecuária e ela fica sozinha em casa. Do nada, um fotógrafo aparece perdido na estrada e pede uma informação. Ela, gentilmente, se oferece para levá-lo e, enfim, vocês já devem ter entendido o que acontece.
A mulher (ninguém menos que Meryl Streep) e o fotógrafo (ninguém menos que Clint Eastwood) se apaixonam e vivem uma semana de intenso amor. Uma paixão arrebatadora, daquelas assim, que a gente nem sabe se vai viver um dia nessa encarnação. Vive um sonho, um conto de fadas.
Até que (por que essas histórias tem que ter um "até que") chega a hora do fotógrafo ir embora e da família voltar. Ele quer levá-la, ela não sabe o que fazer. Ela, a mulher menos glamourosa do mundo, menos interessante, será que ela pode ser mesmo a "mulher da vida" de um cara tão bacana?
Medo. Paixão. Segurança.
Ela decide não ir. Porque a conta a ser cobrada depois, ia acabar com qualquer amor que pudesse surgir. O fotógrafo ia dever demais, porque abandonar os filhos e o marido é um preço muito alto. No fim das contas, ele ia roncar (como o marido), ia ter defeitos (como o marido) e aquela história de amor era muito mais linda se acabasse ali.
Se fosse só aquilo, sem a parte do felizes para sempre.
Ele, em vez de insistir, xingar, jogá-la na parede e chamá-la de lagartixa; em vez de seduzi-la, encostar na mão, puxá-la pelo braço e pelo cabelo, como a gente queria muito que ele fizesse, entende. Respeita. O tempo dela. A decisão dela. E passa a vida inteira mandando notícias esporádicas, fotos e cartões postais dos mais lindos lugares que ele vai conhecendo. E ela vai vivendo a vida que escolheu, e acalentando o amor de sonho que ela também experimentou. Um segredo que alimenta a alma.
A cena final da decisão, é a coisa mais linda do mundo. Uma história de amor que se pauta pelo RESPEITO às decisões do outro. A consciência de que a gente pode amar sem ter (fisicamente), mas que pode ter um carinho diferente. Para sempre.
As pontes de Madison unem os dois lados dessa história.
7 comentários:
Vi esse filme pela primeira vez há 4 anos, depois de muito uma amiga insistir. Só de vingança fui pra casa dela quando acabei de assitir, pra ela ver o que queria, o quanto fiquei inchada de tanto chorar! A cena em que ela agarra a maçaneta da porta do carro, na chuva, é de se matar!!! Lindo demais, melhor filme ever! E vc o resumiu lindamente! Bjos
nossa!! fiquei com muita curiosidade de ver esse filme agora! parece lindooo! e eu sou doida por esse tipo de filme!!! Amei a descrição! e aodro os filmes da Meryl Streep!!
bjão
Laura,
Só você seria capaz de transformar um filme lindo em um filme mais lindo, ainda! Você é DEMAIS, garota! Adoro seu jeito de narrar fatos corriqueiros com humor e sensibilidade.
Beijos!
Oie Laura,
Acho que este fds já tenho programa ... pontes de madison .. hahaha fiquei curiosa :)
Pensando no que vc escreveu tomar essas decisões de abrir mão de alguma coisa que no calor da situação parece ser a mais importante do mundo requer muita maturidade. O novo é sempre muito sedutor, fascinante e dizer um não assim e contunuar na vidinha (por melhor que ela seja) deve ser MUITO dificil.
Bjs e adorei o texto!
Oi, Laura! Incrível! Vou ter de assistir esse filme pois, sem saber, vivi (ainda vivo) uma história semelhante. Optei pela "vida normal",pelos meus filhos(três) e não me arrependo, mas que é difícil, é!
Laura,
Mais uma vez nao me aguentei!!
O filme e realmente maravilhoso! Um dos meus favoritos! Deu vontade de ver de novo. Concordo com a anonima ai de cima, a cena da seta do carro e extraordinaria!!
Parabens! Eu nao teria a mesma sensibilidade para descreve-lo...
Lenita
Oi Laura,
Antes de mais nada, parabéns pelo seu livro.
Um outro filme interessante sobre esse tema é "O Príncipe das Marés". Não sei se você já viu, mas é muito bonito.
Beijos,
L.D.P.
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