quarta-feira, 18 de março de 2009

Teoria da conta corrente

Considerando que há tempos eu não venho teorizar neste blog nosso de cada dia, hoje decidi retomar o hábito e contar uma teoria nova: a teoria da conta corrente dos relacionamentos.


No filme Tropa de Elite, o Capitão Nascimento, brilhantemente interpretado pelo Wagner Moura, ao subir o morro numa operação que garantiria a segurança do Rio durante a visita do Papa, matava um aqui, outro acolá e usava a expressão "bota na conta do papa". Não é que o papa tivesse mandado matar, nem nada disso, mas era uma espécie de custo implícito da visita de sua Santidade. Em outras palavras, era uma consequência da presença papal nas nossas vidas por aquele período.


Nos nossos relacionamentos, a coisa funciona mais ou menos desse jeito. Cada um de nós tem uma conta corrente, em que as pessoas creditam ou debitam ações.


Um jantar maravilhoso, um sorriso perfeito, um jeito certo de passar a mão nos seus cabelos, tudo isso são créditos. Uma mentirinha aqui, um resmungo sem razão, uma cortada na frente dos amigos, tudo são débitos. E vai pra nossa conta.


Você é muito brava e brigou com TODOS os amigos do seu namorado? Isso vai automaticamente pra sua conta. Débito que você vai ter que rebolar pra gerar créditos suficientes par sua conta-namoro voltar a ter fundos.


A conta corrente da nossa vida é assim, a gente vai creditando os bônus pras pessoas, e vai debitando as coisas ruins, porque, ninguém é perfeito, né?


Além disso, em se tratando de contas de bonitões enroladores, também debitamos o esforço sobrehumano de fazermos pé, mão, sobrancelha, escova, depilação completa e o juros da expectativa pela saída. Ou seja, o moço para na porta da sua casa já devendo um bocado. E, nesse contexto, ninguém vai discordar que um lanche na praça de alimentação no shopping não cobre nem a entrada do investimento, não é? Assim, se o beijo for muito extraordinário, o papo sensacional e a química inigualável, talvez ele saia com algum crédito. Talvez.


Obviamente, assim como contas correntes, você pode perder tudo numa só vez: uma atitude indesculpável (uma traição ou uma agressão física, sei lá) em que os débitos te deixem tão no vermelho que você vá direto para o SPC/SERASA. A bolsa quebrou, não foi? As economias de uma vida podem ser perdidas num passo maior que a perna...


Como a conta corrente do banco fica vermelha, as nossas contas-correntes afetivas também ficam: de raiva, de ódio, de vergonha, de tanto chorar...


Por outro lado, há pessoas que vão em grandes ou pequenos gestos, acumulando uma verdadeira fortuna amorosa. E essa é uma boa medida do sucesso de uma relação. Aquele telefonema diário de bom dia pode cobrir um happy hour que, excepcionalmente, dure até mais tarde. Um bilhetinho lindo no meio do seu livro novo pode compensar um dia de braveza injustificada. E, aos poucos, vai se construindo um relacionamento sólido e feliz.


Tem gente que cobra juros muito altos pelas nossas dívidas. Uma bobagem qualquer vai crescendo no tempo, crescendo e acaba arruinando um tanto de créditos bons. Outras pessoas, não cobram juros, nem os débitos em si, e acabam esgotadas e emocionalmente falidas de tanto dar sem receber.


De um jeito similar, existem também créditos afetivos podres: você atribui créditos a pessoas que não os merecem (pessoas que, na sua frente agem de um jeito e, por trás, de outro, completamente diferente).


Outra coisa interessante é que a gente pode emprestar créditos de felicidade e amor pras pessoas, numa corrente do bem, sabe? Acredito nisso, e conheço pessoas sempre dispostas a me fazer um empréstimo. E eu, sempre que posso, também tento distribuir créditos por ai.

10 comentários:

Bel disse...

Lindo esse post... Nunca havia pensado nas coisas dessa forma, e adorei. Tudo da vida é matemática, rs. Bjos

*****Aninha***** disse...

Nú Laura! enquanto fui lendo esse texto foi me surgindo à mente instantaneamente situações do meu dia-a-dia... Você já reparou que as pessoas tem maneiras diferentes para debitar e creditar nos saldos?
E não falo só de namorado, mas com amigos e família também... as vezes uma coisa que pra gente só valeu um -5 pra outra pessoa é um -15 e ai vc tenta compensar mas não sabe quanto tem que creditar para deixar tudo equilibrado...
bem complicado... mas a gente vai vivendo e aprendendo...
grande beijo!

Unknown disse...

Sensacional!!!

O problema é quando a bonitona insiste em não enxergam essa relação matemática, se endivida sem limites para cobrir débitos... Entra no cheque especial, pede dinheiro emprestado e até acaba na mão de agiotas para cobrir os débitos dos idiotas... e, apesar do valor da dívida e das conversas das amigas, deixam os Mr Bigs voltarem e realizarem "só mais um débitozinho". É dureza na certa!!!

Anônimo disse...

Oie Laura,
nunca tinha visto as coisas dessa maneira mas vc tá coberta de razão!!! Enquanto tava lendo me peguei pensando que de tempos em tempos deviamos fazer como as empresas e "fazer um balanço" com direito a auditoria especializada de todas nossas contas, com amigos, namorados, maridos, familia só pra ter ideia de como anda o saldo. É bem provavel que aquela amiga querida esteja recebendo menos atenção nossa do que um namorado em débito srrsrsrsr
bjs

Zé Cabudo disse...

Ah, bonita Laura. Desculpe, mas, a despeito do meu esforço para não atrapalhar este ambiente tão cheirosinho, delicadamente feminino, vou invadir o espaço das bonitonas encalhadas de novo, com meus pêlos e meu fedor masculino. Estou lendo suas histórias cronologicamente de cabo a rabo e, no momento, parei no dia 28 de setembro, mais umas salpicadas de leitura de textos com títulos que acho interessantes. Só com o tanto de teoria que li até agora, já dava para você publicar o primeiro volume do seu Tratado de Encalhologia. Daí, vendo sua excelente didática, você poderia até ser professora no curso universitário de Ciências Encalhológicas. A teoria acima pertenceria à grade da matéria Matemática Psico-Sócio-Financeira Básica (a Avançada teria fórmulas expressas). Para finalizar, perdoe meus palpites atrevidos, mesmo sem você saber quem sou eu. Se alguma ação tiver sido debitada na minha nova e zerada conta por causa disso, vou pegar umas aulas, para aprender a economizar.

Ana Carolina =] disse...

Qndo eu crescer qro ser q nem vc, Bonitona *.* sauhsahuahs, eh serio, tooodoss os dias eu passo aki e leio teus posts, mas soh hj parei pra comentar... e digo q, maais uma vez, amei a att. Beeeijosss ;*

-Helô Helê- disse...

Mininaaaa... eu sou investidora à moda antiga, gosto do fundo de renda fixa a longo prazo heheheheh ou, na pior das hipóteses, guardar o investimento no colchão, se é que me entende... *roir*

Bom final de semana!

Anônimo disse...

Tão bonitinha e tão preguiçosinha!
Diáriamente abro seu blog, certa de que vou encontrar páginas novas e NADA!
Espero que o PITO dê resultado.
Beijos!

Carol Ansaloni disse...

Arrasou... amei!!!!

Giovanna Bacelar disse...

Vc disse tudo!!
Acredito já ter passado por estas diversas fases de altas e baixas em minha conta-corrente da vida toda tanto amorosa qto de amizade. Mas sem estas fases, qual graça teria a vida? =D
Beijossssss...