segunda-feira, 17 de maio de 2010

Teoria do crédito emocional

Noções de economia para Bonitonas.

Há uns anos, como vocês devem saber, a economia mundial entrou em parafuso. A explicação, segundo os especialistas, foi a de que surgiu uma bolha de crédito (imobiliário) nos Estados Unidos. Quando a tal bolha de crédito estourou, a economia surtou.

Basicamente, a bolha de crédito surgiu assim: a pessoa queria comprar uma casa. Pegava dinheiro emprestado num banco e ficava devendo, em muitas prestações. A casa era a garantia o que significa que, se a pessoa não pagasse, o banco tomava a casa de volta.

Só que as prestações, junto com as despesas mensais da pessoa, ficavam caras. E, para pagá-las (as prestações), a pessoa ia em outro banco, pedia mais dinheiro emprestado, e dava a casa em garantia (de novo). Obviamente, a pessoa agora ficava com DUAS prestações mensais, que não conseguia pagar. Então, o que ela fazia? Ia num terceiro banco, pegava MAIS dinheiro, dava a casa de novo como garantia, e, bem vocês já entenderam. Acontece que, quando o primeiro banco resolveu cobrar a dívida (e pegou a casa de volta) os outros bancos credores ficaram, a ver navios. 

É claro que é tudo mais complexo que isso, mas, resumindo, é bem isso.

Agora, vamos ao que interessa. De quem é a culpa pela crise? Bem, eu acho que de quem pegou emprestado de mil bancos, mas, também, dos bancos, que emprestaram sem conferir se a pessoa podia pagar. OU seja, deram crédito a quem não merecia.

Após esta pequena introdução, vamos à teoria: As crises só acontecem porque damos crédito a quem não merece. 

Simples assim. Se meus sentimentos fossem um banco, a maioria das pessoas teria crédito pré-aprovado. Isso porque, em geral, em não confiro fontes, antecessores, nada. Eu conheço alguém, sei lá, na fila do supermercado, e dou um cheque em branco, acreditando que elas vão ser sinceras, gente boa, e que têm verdadeiro potencial para serem minhas amigas. Todas as minhas crises sentimentais, hoje vejo, foram culpa minha: quem mandou emprestar (confiança, carinho, amizade) a quem eu nem conhecia? Mais que isso, conheço inúmeras outras bonitonas (bancos de sentimento) que são assim também. Muitas vezes com bonitões.

A gente dá crédito, ou seja, a gente acredita. Aposta. Investe. Chamem como quiserem, os termos são bem de economia mesmo. Porque relacionamento, no frigir dos ovos, é sim um investimento a longo prazo.

E quem não conhece  caso de quem deu uma segunda, uma terceira, uma décima sétima chance a alguém e, previsivelmente, ficou à beira da falência sentimental, ao descobrir que o fulano ou a beltrana tinham dado um golpe? Sumido com todo o amor/amizade/afeição sem deixar rastros???  E quem não conhece um bonitão que fez com você a mesma coisa que fez com duas bonitonas antes e duas bonitonas depois de você e que deixou todas com o mesmo rombo? E quem não conhece alguém que pega tudo o que você emprestou pra ele e gasta numa noite com uma pessoa nada a ver? E, depois, vem pedir mais crédito?

Melhor seria, e é triste dizer (escrever) isso se fôssemos mais desconfiadas. Se a gente emprestasse primeiro 5 reais e, só se a pessoa pagasse, a gente emprestasse, sei lá, 7. Emprestasse a nossa capacidade de escutar, e, só depois, emprestasse um ou outro casos da nossa vida, falasse menos o que pensamos. Depois de um tempo, a gente poderia até emprestar 10, mas assim, só com comprovada adimplência sentimental. É claro que ninguém está imune.

Mesmo com todas as precauções, em se tratando de sentimentos, em que é impossível ter garantias, a gente sempre corre o risco de tomar o cano. Dos grandes. Mas, a vida é o risco também. E arriscando muito, sempre podemos perder muito. Ou ganhar. Ainda bem.

11 comentários:

Lorena disse...

Fantástico!
:)

Ellen disse...

Engracado que estava falando outro dia com uma amiga sobre este assunto....ficamos colocando na balanca se já ganhamos mais do q perdermos nesta história de confiar nas pessoas, de ser um banco sem restricoes de crédito...e chegamos a conclusao que já demos muito cabecada, mas q no final do balanco, ainda saímos com o saldo positivo...ás vezes queria mudar, mas nasci assim, e vou morrer assim tb...entao acho q a vida vai deixando a cabeca mais dura para as decepcoes, mas mudar nao vamos nao....adorei o texto como sempre...bjks e boa semana!

Unknown disse...

amora...... falei de vc hoje, de um jeito enviezado..... vai lá vai

http://walkyria-suleiman.blogspot.com/2010/05/presente-da-alice-uma-maravilha.html

Paula V. disse...

Fantástico! [2]

Eu, felizmente (ou não, sei lá), depois de alguns golpes e quase falências, aprendi a desconfiar e a ser bem criteriosa na aprovação do crédito...
Não sei se isso é bom ou ruim, mas que é seguro, ah isso é!

Beijos

Alma disse...

Amei seu texto!
Posso publicar o meu blog? Colocando todos os créditos, claro...
Aguardo sua resposta.
Um xero!

Ana disse...

All in, baby!

Unknown disse...

Suas teórias são mesmo tudo de bom! Acredito que correr o risco faz parte, algumas vezes perdemos e aprendemos (ou pelo menos deveríamos) a fazer um "investimento" com mais cautela, outras vezes ganhamos um saldo que vale pra vida inteira.
Beijos, bonitona!

Unknown disse...

Ahh, mas eu acho que o nosso Banco de Sentimentos nunca entra pelo ralo. Pq o nosso saldo é infinito. Qunto mais a gente dá e perde, mais a gente aprende a dar para outro e de maneira mais inteligente.
Na verdade, nesse caso eu acho que o "malandro (a)" é que sai perdendo. Pq ganhar sentimento dos outros é um eterno acúmulo de bens. E eles não souberam acumular, só perderam. :)

Unknown disse...

Minha querida....puxa, hoje mesmo escrevi um lance, que amor não é mercadoria.

Que não se deve esperar nada em troca. Que não somos um banco.

Poxa....nem sei o que dizer. Mas sei que n'ao acredito que amor seja mercadopria de troca. Essa ilus'ao acaba com a gente.

Vanessa disse...

Incrível como seus textos "conversam" tanto comigo! Hoje foi um dia assim, me senti roubada... Triste... Nunca deveria entregar "cheques em branco"... Talvez um dia eu aprenda e me torne mais criteriosa antes de entregar grandes tesouros...
Parabéns pela delicadeza do texto...Beijos

Caroline® disse...

Simplesmente perfeito.
Suas analogias são de uma clareza cristalina, Laura.
Eu tomei um "calote emocional" recentemente - dei muito crédito e fiquei a ver navios, afanaram meus sentimentos! Agora vou tentar ser mais cuidadosa, e submeter todo mundo a uma boa análise de crédito. Só vou emprestar meus sentimentos a quem puder adimplir a dívida comigo...